Tuesday, January 06, 2004

Mais uma vez a questão da musica portuguesa…

Vou imaginar que sou legislador (não tentem isto em casa, eu sou um profissional – ou louco - não interessa) e que tenho em mãos a tarefa de criar uma lei que regulamente a passagem de música portuguesa, para começar, na rádio. Nada de novo, existem leis em Portugal (que não é cumprida pela generalidede das rádios de âmbito nacional), na Espanha, e na França pelo menos, com o objectivo de proteger a música nacional enquanto forma de expressão cultural de um povo.

Eu por norma desconfio de todas as leis que queiram proteger uma actividade, “cultural” ou não, por razões de interesse nacional. Isto porque na maior parte dos casos as actividades protegidas geram dinheiro, logo, alguém vai lucrar e não estou só a falar do estado que irá arrecadar impostos dos lucros resultantes da actividade. Como se sabe, em Portugal, proteger uma actividade significa à partida um descontozinho nos impostos. Ficamos todos a arder excepto os tais que são protegidos (ou quem lucra com eles). Digam que sou de direita se quiserem, eu não gosto é de fazer de parvo.

A música como qualquer outra actividade “cultural” gera muito dinheiro, mas o meu 1º ministro disse, pá, é chato ir contra a tuas ideias, mas arranja uma leizita que os cale, que nos faça ganhar dinheiro e votos, e se puderes (mas não te esforces muito) que seja boa para o país.
Bem, se tenho que defender a música portuguesa porque ela é parte da identidade do país e não como a actividade económica que é (é o principio que baseia esta lei), tenho de excluir da lei toda a musica que seja cantada noutra língua que não o português e o mirandês. E não tenho de seguir qualquer critério de qualidade, sempre discutível, atirando para o “lixo” (deixando de fora da lei) bandas como Blind Zero e Silence 4. se a sua qualidade é inegável, não prestação um serviço publico à língua portuguesa. Obviamente Agáta, Mónica Sintra, Excesso (parte I e II) tem de ser incluídos. Resumindo, nesta situação, as rádios que são livres de passar o que querem (e muito bem) e o que o seu público-alvo quer (previamente educado pela própria estação de rádio) desde que passem, por exemplo, 40% de música cantada em português ou instumental tocada por portugueses. Claro que o português não è apenas falado Portugal, e atendendo que “a minha pátria é o português” (é mais ou menos assim, e acho que foi dito pelo Jorge Amado), contaria para a estatística musica cabo-verdiana, brasileira, guineense, angolana, moçambicana, macaense timorense, e até a nelly furtado tem lugar, desde que seja em PORTUGUÊS.
Independentemente do valor 40%, parece-me que esta seria a solução mais pragmática para resolver a questão, afinal o que é música portuguesa? (post termómetro da semana passada). Já os estou a ouvir a berrar, perdão, a cantar, os excluídos. Porque não é baseada em critérios de qualidade. Pois não. E quê? Life’s a bitch (perdoem-me o inglês, trad: a vida é fodida). Cantem em português, quem tem criatividade para escrever em inglês, também a terá para o fazer em português. É mais fácil em inglês? Pois, os ouvintes não estão tão atentos às banalidades que são cantadas, é mais fácil de de dizer amor em inglês, segundo os clã. Assim vamos vender menos, dizem os do Pop-Rock, pois os do pimba já escrevem em português à muitos anos. Mas quem vou ouve e grava, perdão mais uma vez, e compra os Álbuns, não vai certamente passar a ouvir Santamaria.

Um pequeno exercício de memória. Quais foram os álbuns portugueses mais vendidos, e os artistas que mais venderam, na ultima década? Estão recordados? Vou dar uma ajuda. Rui Veloso, Pedro Abrunhosa, Delfins (blagh), Xutos e Pontapés, Silence 4, Paulo Gonzo, Marco Paulo, Tony Carreira, Ágata, The Gift, Clã, Sérgio Godinho… pesquisem e vejam se encontram por lá estes e outros. Mas aproveitem e vejam na vossa lista quantos destes cantam em português e quantos cantam em inglês. Mesmo vendo pelo prisma comercial não terei dúvidas em afirmar que a musica portuguesa cantada em português vende, e vende muito, e que apenas esporadicamente surgem, de entre muitos, valores seguros, em termos comercias e criativos noutras línguas.

Uma nota para a Antena 2. Esta rádio é especializada em música clássica e terei de abrir uma excepção (e eu detesto as excepções às leis) assumindo que Mozart, Chopin.... já fazem parte da cultura universal. E para as rádios locais, que certamente serão das poucas que cumprem a lei já existente, embora a musica seja de qualidade duvidosa.

Para terminar vou justificar os 40% (até 60%). Eu quero a lingua portuguesa tenha espaço, mas não posso deixar que o publico deixe de ter acesso generalizado a musica em outras linguas, não tardava nada estavamos a ouvir As pedras rolantes ou As portas, Riscas Brancas, Robinho Guilherme, tal como acontece em Espanha. E nós sabemos o jeito que os espanhóis têm para falar inglês (ou português)

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