Eu sou o último Rei Mouro!
Abu Abdullah, conhecido pelos cristãos como Boabdil.
Fui eu o último rei de granada, o ultimo reino mouro da península ibérica. Mas na realidade foram poucos os momentos em que me senti um verdadeiro Rei. Tive de dividir a minha cidade com o meu pai, que contra mim lutava, e simultaneamente protege-la dos reis católicos, Fernando e Isabel.
No fim da minha estada na Europa, tive de enterrar a minha preferida (e única amada) do harém, Morayma e um dos nossos filhos. Foi nessa altura que derramei as minhas ultimas lágrimas – O ultimo suspiro do mouro.
Deixei que o meu Reino fosse conquistado pelos católicos. Por isso hoje ainda pago, mas a história é bem diferente. Eu fugi para evitar a destruição do local mais belo de todos os reinos Ibéricos – O palácio de Alhambra. Os reis católicos ficaram com ele intacto, apenas para os lembrar eternamente que semelhante obra nunca iriam conseguir igualar. Se preservar a beleza é covardia, eu sou culpado desse crime.
Eu agora divago acerca do meu passado, pois não tenho presente, e o único futuro que algum dia tive, foi traçado à minha nascença por um oráculo. Foi dito nessa altura que quando me senta-se no trono, o reino iria cair e sofrer humilhação pela minha derrota e captura. Fui a partir desse dia chamado al-Zogoybi, o azarado, ou el Niño, o menino. Sempre achei que esta sentença afectou todo o meu comportamento em vida, e que ela foi a causa da minha desgraça. Pois tudo o que fiz tinha a marca do infortúnio – é difícil conseguir soldados para combater ao lado de alguém de dá pelo cognome de al-Zogoybi.
Mas isto já passou e hoje, alguns séculos depois de morrer a lutar por outro rei, tenho finalmente uma existência, senão feliz, pelo menos livre de necessidades. Ainda não sei se Alá me quer castigar por ter fugido, ou recompensar-me pela mesma razão. Acho que vou ter de ser eu a descobrir. Mas Ele foi bom comigo. Deu-me um corpo humano onde habito temporariamente, que me permite observar o mundo chamado de moderno, sem ter preocupações sociais, politicas, pessoais. È este corpo que eu uso para escrever neste espaço. Ás vezes é a mente associada ao corpo que escreve, outras vezes é o espírito (Zogoybi). Tenho quase a certeza que a mente (o “dono” do corpo) não dá pela minha presença, pois eu só me revelo em alguns momentos aleatórios.
Nunca me tinha apercebido até hoje das vantagens de ter um corpo, sem precisar de realizar qualquer operação de manutenção do mesmo. Se quisesse classificar esta minha relação a três, não lhe chamaria simbiose, pois na realidade eu não sou uma entidade biológica, nem cooperatividade, eu só recebo sem nada dar em troca. Acho que vou acabar os meus dias de espírito como um parasita. Não. Eu também não sou parasita. Não retiro recursos ao corpo, nem condiciono a mente. Nem na morte sei o que sou.
Mas vou usar este espaço para dizer tudo o que me apetece. Criticar, especular, sugerir, comentar… Afinal, haverá melhor opinião do que a de um espírito com 500 anos?
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