Á uns dias tive um sonho.
Não costumo sonhar, mas ultimamente este cenário tem-se repetido. A parte chata é que depois dos sonhos não consigo dormir, e até os mortos precisam de descanso… “descanse em paz... Paz eterna á sua alma” sempre fazem algum sentido. O não dormir não se deverá ao conteúdo do sonho em si, pois “…for there is nothing either god or bad, but thinking makes it so…”, William S. disse-o (entre duas passas) e com razão.
No meu último sonho vagueava num pinhal… ou melhor descia vertiginosamente de bicicleta, até começar a subir uma colina, ou pequeno monte, já a pé (até nos sonhos sou comodista). E enquanto caminhava, discutia comigo próprio (sou a minha melhor companhia) a razão da existência de “ambientalistas”, particularmente dos radicais, e se não necessitariam eles da falta de zelo dos outros humanos para terem uma razão para existir, da mesma forma que as religiões precisam de infiéis (o que seria da fé se não tivesse existido antes a ausência dela). Subitamente (e já estava quase a alcançar o topo do monte) começa a correr água, vinda do nada, ou de um lugar que eu não distingo, que é equivalente ao nada, na nossa visão egocêntrica. E como o caudal aumenta com grande velocidade penso em descer o monte… não! Assim ficaria numa zona baixa e afogar-me-ia certamente. Corro para alcançar o cimo do monte rapidamente, mas enquanto galgo em largas passadas a água, desequilibro-me e rolo encosta abaixo… mais uma folha seca ao sabor da corrente… E acordo.
Não acordei envolto em suores frios nem molhado como no fim de um sonho erótico. Acordei.
Por entre várias explicações para este sonho, algumas metafísicas, algumas racionais, umas tão más quanto as outras, duas apareceram na minha cabeça. O monte é a uma espécie de escalada profissional que tento fazer, mas que antevejo não conseguir. E a enxurrada traduz toda a minha preocupação, tal como a incerteza do caminho a seguir, será aquilo que eu ainda não sei, mas optimista como sempre, irei rolar docemente colina abaixo. Os ambientalistas estão ali para atrapalhar a interpretação, uma piada das vozinhas que estão dentro da minha cabeça.
E se for a loucura, a vertigem de descobrir o corpo de uma Mulher? O prazer de descobrir ambiciosamente os recantos do seu corpo, os beijos e carícias ofegantes, a subida lenta e deliciosamente penosa da penetração… o jacto orgásmico que se adivinha e que se pretende prolongar, mas num momento de egoísmo não se retém mas antes se deixa sair violentamente (antes o meu prazer que o de nenhum de nós)… e o receio, a culpa, a queda em desgraça de não proporcionar prazer a quem tanto bem fez por mim… (os ambientalistas são mais uma vez um pormenor À irmãos Cohen)
Belas e plausíveis explicações…
Nessa manhã posterior ao sonho estava com pressa, e tentava ir o mais depressa possível de carro, até que apanhei à minha frente alguém com muito menos pressa. E ainda tive de fazer um pequeno desvio devido ao facto da estrada estar cortada pela companhia de água canalizada. Simultâneamente ouvi na rádio que o governo tinha anunciado uma aumento da separação dos lixos domésticos pelos portugueses em 2003 (comparação com 2002). Um dirigente duma associação ambientalista contestava heroicamente os valores do governo, usando argumentos de estatística (as contas estavam mal feitas segundo a sua opinião). Claro que o dia foi miserável para mim (experimentem dormir 4 horas por dia durante vários dias, e ainda ter sonhos estúpidos), mas no regresso à mouraria caiu sobre o carro uma monumental e abençoada bátega de água. Mais um dia banal.
Esta explicação pode não ser mais poética, ou aquela que seduzirá mais os estudiosos dos sonhos e outros sonhadores, mas continuo a pensar que os sonhos são como prostitutas, que existem para satisfazer os nossos desejos mais escondidos, mesmo aqueles que ainda não conhecemos.
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