Eu vi um morto
Talvez por ser um dia tão importante para a cultura ocidental, neste dia festivo de carnaval, passou por mim um carro fúnebre. Não sei se conteria um morto no interior, mas pouco me importa. Ou melhor, estou a imaginar o gozo dele a observar-nos caricaturados de pessoas, ébrios de emoção, a pulular ao som de batidas repetitivas e letras de escola primária, felizes e contentes por sermos humanos. Enquanto que ele do alto da sua sabedoria de morto, no s comtempla fascinado.
Será que também era assim? Com podia ser tão fútil! Não deveria ter morrido. Quero ressussitar para sofrer a dor de saber o que sou, apenas mais um ser humano. Morrer parece-me agora uma benesse divina, um saber não merecido (copiei no teste e passei) tudo menos um qualquer castigo por ter sido, ou ter deixado de ser, algo em vida.
Assim pensará o morto. Assim pensou o Mouro quando morreu. Mas o Mouro ainda existe para sentir a dor de saber quem é.
E vagueio pela cidade...
Na cidade vazia, é mais fácil notar toda a sua beleza e envolvência emocional. Ficamos com espaço para nós e para os nossos pensamentos. O vazio que se sente é um estímulo incrivel. Mas também é mais fácil notar a mancha no casaco branco do que no cachecol garrido. Foi assim que eu vi um morto. É ainda um vagabundo, um indigente, que berra uma qualquer canção, efeitos secindários do delirium tremens, ou apenas loucura. Este homem está morto e ainda não o sabe.
Ao pensar nele não me passa pela cabeça nenhum sentimento de revolta pela injustiça da vida, nem me sinto culpado pela desgraça que o levou aquele estado. Não conheço o seu passado. Também não quero nem vou mexer uma palha para aliviar o seu sofrimento (não possuo armas de fogo ou outras). Não sei se ele é assim porque quer.
A única coisa que me ocorre, é a forma como a miséria humana salta mais á vista quando a cidade está vazia, e os homens do lixo estão de férias.
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