Tuesday, December 16, 2003

Eu….

Humildemente confesso que me sinto só. Confesso que me faz falta o carinho de uma mulher, de uma alma para este meu corpo. O terno sussurrar de palavras ao ouvido, uma mordida no lóbulo da orelha, o tocar de corpos nus. Um arrepio que me percorre no espaço e no tempo. Mais do que o desejo carnal, falta-me um sentido na vida, algo para agarrar, que ternamente me segure.

Confesso que choro, os homens também choram, emociono-me com a felicidade genuína dos campeões, dos que vencem as agruras com um sorriso no rosto. Enoja-me a felicidade pré-formatada e projectada, a mesquinhez dos sentimentos forçados que não geram sentimentos.

Confesso que sou ateu. E juro que acredito que Ele existe, sempre que uma mulher bonita cruza a minha miserável existência. Angélicos rostos cheios de inocência e bondade. Arte intocável. Gostaria de as possuir. A todas. Elogio mentalmente a eloquência delas enquanto cobiço as suas ancas, os seios, os lábios macios, o sorriso.

Confesso que apunhalaria pelas costas os meus amigos à 1ª oportunidade, apenas pelo prazer de o fazer. Morreria por eles se tal fosse necessário, mas não sacrificaria os meus princípios. Prometo tudo, e nada faço. Mas quero fazê-lo, mais dia, menos dia. Prometo. Mas não o farei, é inevitável. A frustração toma conta de mim antes da tarefa terminada (?), ou começada.

Confesso que sou egoísta e egocêntrico. Tudo gira à minha volta e para mim, em função dos meus caprichos e das minhas angústias. Tenho o sorriso que ilumina e o olhar que perdoa. A mente que critica ferozmente, a ironia, o sarcasmo, a covardia de atacar por detrás e ser feliz. Sou desejado, e rejeito quem me deseja. Anseio pelo amor e tenho medo dele, fujo das relações amorosas. Cortam-me o pensamento, amarram a criatividade, oferecem-me a angústia da desconfiança em troca de breves prazeres. Fico esquizofrénico quando amo, deprimido porque sozinho.

Confesso que me sinto feliz pela alegria que emana do meu rosto. Sou uma criança num corpo de homem, um corpo com rosto de criança. Quero ser levado a sério! Olhem para além do nariz vermelho, da mascara branca, da peruca. Tenho sentimentos! Quero respeito! Despeitado quando posto de lado, refugio-me quando no centro das atenções. Deixem-me só, no meu canto. Quero paz de espírito, quero viver e deixar morrer, ir para o túmulo em paz. Não quero os holofotes que me perseguem, que persigo, a na penumbra encontro a felicidade.

Confesso que sou um falhado, impotente para mudar o curso da minha vida. Resisto ás agruras, não as venço, contorno-as, desvio-me. Sou um falhado e gosto de o ser, porque não tenho coragem de mudar. Capaz de vencer, mas com medo de o fazer. Tenho medo de falhar. Detesto a rejeição. Como é que alguém pode dizer-me não? Que insolência. Desperdiçam-me. Ajudem-me a afundar ainda mais, num poço escuro longe de todos, cada mais perto da felicidade. Pode ser que morra um dia. Queria morrer em Las Vegas.

Sou todos os vossos pecados e defeitos, sinto todos os vossos sentimentos nobres e verdadeiros. Este sou eu. A minha incoerência reflecte a minha personalidade única.

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