Lady Pavlov
Um casal como tantos outros. Unidos pelo amor, pelo sexo e por várias razões de ordem prática que nos unem de forma puramente aleatória. E como nada se cria, nada se perde, mas tudo se move lá teve ele de partir para outro local, afastado fisicamente dela.
Um parêntese: () costumo opinar entre amigos que a maioria de nós homens somos básicos. Isto claro origina um coro de protestos do lado XX e XY. Não explicarei aqui o meu ponto de vista, mas acrescento que básico não é o mesmo que estúpido. Acrescento ainda que fico admirado pela forma como simples alteração da forma (ex: escrever Homem ao invés de homem) poderá fazer tanta diferença.
Continuando com a estória.
Quando foi embora ele deixou um ultimo pedido. Queria que ela continuasse a ter prazer sexual… com ele. Bem, pelo menos com ele no pensamento. Fazendo uso das novas tecnologias, e de alguma criatividade, sugeriu-lhe que de cada vez que ele se lembrasse dela, lhe “dava um toque” com o telemóvel. Ela por sua vez, teria de se masturbar imediatamente a pensar nele.
A sugestão foi prontamente aceite por ela.
Durante várias semanas e com frequência ele lembrava-se dela. Nestes momentos ela cumpria a sua parte do acordo e com a ânsia de quem necessita de carinho do companheiro, acariciava-se até o momento de êxtase final. Estes momentos de prazer revelarem-se tão ou mais intensos do que aqueles passado com o companheiro.
Enfim, as formas que encontramos para fazer perdurar as boas (poucas) sensações que a natura nos deu.
Um dia, numa festa tocou um telemóvel (imaginem só!!!). Ao princípio foi um toque subtil, mas que fez estremece-la, e um arrepio palmilhou as suas belas costas. Depois, como uma criança sedenta de atenção, o toque subiu de tom, num crescendo sinfónico, e com ele subiu também a pulsação dela… a cara ruborizou… a pulsação aumentou ainda mais… instintivamente colou as mãos ao colo acariciando-se languidamente… sentiu o latejar do corpo sedento de algo mais…
Passados alguns segundos, disfarçados pelo ruído da música, ouviram-se alguns gemidos vindos de um sofá, onde estava apenas uma rapariga com os olhos semicerrados – possivelmente a dormir, pensaram.
Nessa mesma noite, quando chegou a casa, telefonou-lhe para contar o que se tinha passado. Nessa mesma noite o casal deixou de existir (pelo menos segundo a definição social). Ele não aguentou o choque de saber que o toque de outros podia dar prazer à sua, agora ex-, companheira.
fotografia da autoria de Elyn
Monday, August 01, 2005
Saturday, March 19, 2005
Thursday, March 17, 2005
A chave do meu cérebro
Algumas teorias neurológicas atribuem a esquizofrenia, pelo menos em parte, à hipofunção cerebral, devido á interrupção da transmissão dopaminergica. Ou seja, quando os neurónio passam menos informação entre si. Discordo em absoluto. Concordo mais com a outra visão que atribui as alucinações ao aumento da actividade cerebral.E com conhecimento de causa.
Eu sou esquizofrénico sazonal. Não. A designação “sazonal” não é a melhor, mas digamos que quando bebo mais café e fico mais ansioso, mais alerta ao que me rodeia, começo a criar no meu cérebro tramas holiwoodescas (e não estabeleço qualquer relação causa/efeito entre a cafeína e a maior percepção da realidade). A cafeína excesso provoca um estado de ansiedade alucinada.
Estas tramas que no início são apenas devaneios, tornam-se cada vez mais densas, e por mais implausíveis que sejam eu assumo que se não aconteceu (apenas duvido porque me faltam provas concludentes), poderia muito bem ter acontecido. E sejamos francos, se algo pode acontecer, é como se fosse tão real com qualquer outra coisa. Falta de provas… pfui!! As pessoas inteligentes podem fazer o que querem sem ser apanhadas (eu que o diga). A falta de provas nunca provou nada. E qualquer sorriso, qualquer afirmação inocente, os olhares de esguelha no corredor, as frases sussurradas, tudo isso encaixa na minha trama. E sim, os humanos são cruéis, maliciosos, maquiavélicos. A única pessoa com quem sempre pude contar sou eu! Só eu me conheço! Eu sou o meu melhor amigo e só eu me posso fazer sofrer.
Mas o mais interessante acontece quando estou deitado, naquele estado de semi-inconsciência que antecede o sono. Começo a ouvir vozes. Elas são criadas pela minha imaginação, sei disso, e isso não é estranho. Mas agora imaginem que estão a ouvir rádio… podemos começar pela TSF… “o ministro justificou a medida com essencial ao progresso de país e a oposição contrapôs em uníssono que o equilíbrio orçamental e o progresso são coisas independentes”… agora aumentem o volume do rádio. Sim. Aumentem o volume do desse som que só existe na vossa cabeça. Aumentem até se tornar insuportável. E agora vão mudando de estação em estação… “se o meu amor me quiser, basta fazer-me um sinal…” “o médio lesionou-se no treino e antevê-se dificuldades no próximo embate da equipa…” “quero buzinar no meu calhambeque… Pipi… Pipi” “a situação no médio oriente degrada-se a cada dia que passa, e o roteiro de paz está mais uma vez em perigo…” tudo isto no vosso cérebro. As notícias, as musicas, os anúncios sucedem-se em catadupa na vossa cabeça, e vocês não conseguem parar, e nada disto é real, nada disto foi ouvido durante o dia, mas na minha cabeça tudo acontece com uma realidade impressionante. Eu tenho um controlador d volume de som no meu cérebro… e veio de série.
Há dias em que adormeço como um bebé. E sonho. Um dia acordei no meio de um sonho, e fiquei num estado de semi-inconsciência. Esse sonho, que não vou descrever, era apenas uma continuação das tramas urdidas no meu cérebro durante o dia. Acordei, e não quis voltar a adormecer. A antevisão do que sonharia em seguida fazia com que o meu coração se contrai-se, e uma mágoa imensa começou a afligir-me. Não queria voltar a adormecer, embora precisasse de descansar pois estava extenuado. Decerto que já vos aconteceu acordar, mas por algum tempo prolongarem semi-conscientemente os vossos sonhos. Muito agradável. É uma espécie de transição entre dois mundos. Um acordar perfeito, lento, cálido como o final de uma tarde de verão. Não muito agradável quando no sonho se reconstitui o pior dos vossos medos. Pior ainda se tiverem tendências masoquistas, se tornarem conscientemente o sonho pior do que estava ser. Não quis adormecer para não voltar ao sonho, mas ao ficar acordado o sonho tornou-se ainda mais nítido, juro que por momentos pensei que ele se materializou, e que tudo aconteceu naquilo a que chamamos realidade. Eu sou o melhor inimigo pois sou quem me conhece melhor.
“Lá estás tu com a mania que és esquizófrenico!”
“Isso é donça de rico e tu és pobre, pá! Tu és mas é louco! Esquizofrénico só porque ouves vozes na tua cabeça.”
“Nem louco ele é! Pensas que descrever as tuas supostas alucinações te vai tornar mais interessante?”
“E pesadelos!!! Come menos antes de te deitares. Ou pensas que és mais do que os outros?”
“bem-vindo de volta á mediocridade…”
“…de onde nunca saístes.”
Ainda vem que me trouxeram de volta é terra. Julgar que era diferente dos outros só porque ouço vozes na minha cabeça e acho que sou o divertimento de todos os que me rodeiam, quando bebo demasiado café. Onde é que eu estava com a minha cabeça?
Poderia deixar de beber café, a causa de todos os meus males. Mas também gostaria de me sentir desejado.
Esquizofrenia (sintomas) - ideias delirantes, pensamentos irreais, "ideias individuais do doente que não são partilhadas por um grande grupo; as alucinações, percepções irreais"; ouvir, ver, saborear, cheirar ou sentir algo irreal, sendo mais frequente as alucinações auditivo-visuais; pensamento e discurso desorganizado, elaborar frases sem qualquer sentido ou inventar palavras; alterações do comportamento, ansiedade, impulsos, agressividade. Perda ou diminuição das capacidades mentais acompanham a evolução da doença e reflectem um estado deficitário ao nível da motivação, das emoções, do discurso, do pensamento e das relações interpessoais, como a falta de vontade ou de iniciativa; isolamento social; apatia; indiferença emocional; pobreza do pensamento. (fonte: wikipedia)
Algumas teorias neurológicas atribuem a esquizofrenia, pelo menos em parte, à hipofunção cerebral, devido á interrupção da transmissão dopaminergica. Ou seja, quando os neurónio passam menos informação entre si. Discordo em absoluto. Concordo mais com a outra visão que atribui as alucinações ao aumento da actividade cerebral.E com conhecimento de causa.
Eu sou esquizofrénico sazonal. Não. A designação “sazonal” não é a melhor, mas digamos que quando bebo mais café e fico mais ansioso, mais alerta ao que me rodeia, começo a criar no meu cérebro tramas holiwoodescas (e não estabeleço qualquer relação causa/efeito entre a cafeína e a maior percepção da realidade). A cafeína excesso provoca um estado de ansiedade alucinada.
Estas tramas que no início são apenas devaneios, tornam-se cada vez mais densas, e por mais implausíveis que sejam eu assumo que se não aconteceu (apenas duvido porque me faltam provas concludentes), poderia muito bem ter acontecido. E sejamos francos, se algo pode acontecer, é como se fosse tão real com qualquer outra coisa. Falta de provas… pfui!! As pessoas inteligentes podem fazer o que querem sem ser apanhadas (eu que o diga). A falta de provas nunca provou nada. E qualquer sorriso, qualquer afirmação inocente, os olhares de esguelha no corredor, as frases sussurradas, tudo isso encaixa na minha trama. E sim, os humanos são cruéis, maliciosos, maquiavélicos. A única pessoa com quem sempre pude contar sou eu! Só eu me conheço! Eu sou o meu melhor amigo e só eu me posso fazer sofrer.
Mas o mais interessante acontece quando estou deitado, naquele estado de semi-inconsciência que antecede o sono. Começo a ouvir vozes. Elas são criadas pela minha imaginação, sei disso, e isso não é estranho. Mas agora imaginem que estão a ouvir rádio… podemos começar pela TSF… “o ministro justificou a medida com essencial ao progresso de país e a oposição contrapôs em uníssono que o equilíbrio orçamental e o progresso são coisas independentes”… agora aumentem o volume do rádio. Sim. Aumentem o volume do desse som que só existe na vossa cabeça. Aumentem até se tornar insuportável. E agora vão mudando de estação em estação… “se o meu amor me quiser, basta fazer-me um sinal…” “o médio lesionou-se no treino e antevê-se dificuldades no próximo embate da equipa…” “quero buzinar no meu calhambeque… Pipi… Pipi” “a situação no médio oriente degrada-se a cada dia que passa, e o roteiro de paz está mais uma vez em perigo…” tudo isto no vosso cérebro. As notícias, as musicas, os anúncios sucedem-se em catadupa na vossa cabeça, e vocês não conseguem parar, e nada disto é real, nada disto foi ouvido durante o dia, mas na minha cabeça tudo acontece com uma realidade impressionante. Eu tenho um controlador d volume de som no meu cérebro… e veio de série.
Há dias em que adormeço como um bebé. E sonho. Um dia acordei no meio de um sonho, e fiquei num estado de semi-inconsciência. Esse sonho, que não vou descrever, era apenas uma continuação das tramas urdidas no meu cérebro durante o dia. Acordei, e não quis voltar a adormecer. A antevisão do que sonharia em seguida fazia com que o meu coração se contrai-se, e uma mágoa imensa começou a afligir-me. Não queria voltar a adormecer, embora precisasse de descansar pois estava extenuado. Decerto que já vos aconteceu acordar, mas por algum tempo prolongarem semi-conscientemente os vossos sonhos. Muito agradável. É uma espécie de transição entre dois mundos. Um acordar perfeito, lento, cálido como o final de uma tarde de verão. Não muito agradável quando no sonho se reconstitui o pior dos vossos medos. Pior ainda se tiverem tendências masoquistas, se tornarem conscientemente o sonho pior do que estava ser. Não quis adormecer para não voltar ao sonho, mas ao ficar acordado o sonho tornou-se ainda mais nítido, juro que por momentos pensei que ele se materializou, e que tudo aconteceu naquilo a que chamamos realidade. Eu sou o melhor inimigo pois sou quem me conhece melhor.
“Lá estás tu com a mania que és esquizófrenico!”
“Isso é donça de rico e tu és pobre, pá! Tu és mas é louco! Esquizofrénico só porque ouves vozes na tua cabeça.”
“Nem louco ele é! Pensas que descrever as tuas supostas alucinações te vai tornar mais interessante?”
“E pesadelos!!! Come menos antes de te deitares. Ou pensas que és mais do que os outros?”
“bem-vindo de volta á mediocridade…”
“…de onde nunca saístes.”
Ainda vem que me trouxeram de volta é terra. Julgar que era diferente dos outros só porque ouço vozes na minha cabeça e acho que sou o divertimento de todos os que me rodeiam, quando bebo demasiado café. Onde é que eu estava com a minha cabeça?
Poderia deixar de beber café, a causa de todos os meus males. Mas também gostaria de me sentir desejado.
Esquizofrenia (sintomas) - ideias delirantes, pensamentos irreais, "ideias individuais do doente que não são partilhadas por um grande grupo; as alucinações, percepções irreais"; ouvir, ver, saborear, cheirar ou sentir algo irreal, sendo mais frequente as alucinações auditivo-visuais; pensamento e discurso desorganizado, elaborar frases sem qualquer sentido ou inventar palavras; alterações do comportamento, ansiedade, impulsos, agressividade. Perda ou diminuição das capacidades mentais acompanham a evolução da doença e reflectem um estado deficitário ao nível da motivação, das emoções, do discurso, do pensamento e das relações interpessoais, como a falta de vontade ou de iniciativa; isolamento social; apatia; indiferença emocional; pobreza do pensamento. (fonte: wikipedia)
A Caverna (de Platão)
(co-autoria de Elyn)
Sinto-me com se estivesse numa jaula, numa gaiola... E quando encosto o meu rosto ás barras que me prende sinto o vento da liberdade que sopra lá fora, e me chama. E a vontade de sair apodera-se de mim como um desejo quase carnal, impaciente... A chave da gaiola está no centro da mesma, bastam-me uns passos e estender a mão...
Enquanto caminho observo a gaiola. Conheço todos os seus cantos. As fotografias na parede por mim penduradas. Aquela cadeira saída do meu labor. Nesta ambiente aconchegado sinto-me seguro. Há perigos, a vida aqui não é fácil, não sou objectivamente livre de fazer o que quero por mais que tente. Por mais poder que tenha nunca estarei no topo da hierarquia. Que perigos me espreitam lá fora? Os de cá dentro já os conheço, prevejo-os, sei como me esquivar, ou como sarar as feridas que eles que causam. Mas e lá fora? Terei liberdade! Mas sobreviverei tempo suficiente para dela usufruir?
(co-autoria de Elyn)
Sinto-me com se estivesse numa jaula, numa gaiola... E quando encosto o meu rosto ás barras que me prende sinto o vento da liberdade que sopra lá fora, e me chama. E a vontade de sair apodera-se de mim como um desejo quase carnal, impaciente... A chave da gaiola está no centro da mesma, bastam-me uns passos e estender a mão...
Enquanto caminho observo a gaiola. Conheço todos os seus cantos. As fotografias na parede por mim penduradas. Aquela cadeira saída do meu labor. Nesta ambiente aconchegado sinto-me seguro. Há perigos, a vida aqui não é fácil, não sou objectivamente livre de fazer o que quero por mais que tente. Por mais poder que tenha nunca estarei no topo da hierarquia. Que perigos me espreitam lá fora? Os de cá dentro já os conheço, prevejo-os, sei como me esquivar, ou como sarar as feridas que eles que causam. Mas e lá fora? Terei liberdade! Mas sobreviverei tempo suficiente para dela usufruir?
Wednesday, March 09, 2005
Nature vs Nurture (2)
Aceito – não tenho mesmo outro remédio – que um Homem superior a mim por o que a Natureza lhe deu – o talento, a força, a energia; Não aceito que ele seja meu superior por qualidade postiças, com que não saiu do ventre da mãe, mas que lhe aconteceram por bambúrrio logo que ele apareceu cá fora – a riqueza, a posição social, a vida facilitada, etc.…
”O banqueiro anarquista”, Fernando Pessoa
Aceito – não tenho mesmo outro remédio – que um Homem superior a mim por o que a Natureza lhe deu – o talento, a força, a energia; Não aceito que ele seja meu superior por qualidade postiças, com que não saiu do ventre da mãe, mas que lhe aconteceram por bambúrrio logo que ele apareceu cá fora – a riqueza, a posição social, a vida facilitada, etc.…
”O banqueiro anarquista”, Fernando Pessoa
Monday, February 21, 2005
Wednesday, February 16, 2005
Politica e Poder
"Porque poderá haver poder sem subserviência, mas esta não existe sem poder", belas palavras caro Nilson. Porque eu não nego o poder (a anarquia não parte do meu cardápio sócio-político), mas é possível aceitar o poder sem se lhe ser subserviente.
Devo dizer que em TEORIA nenhuma forma de poder ou organização política ou social é necessariamente má (com excepção para as que restringem as liberdades individuais). O grande problema é que todas elas (Marximismo, Liberalismo, Presidencialismo, Monarquias...) são humanas. Tem falhas. Os campos de deportação na Sibéria não são um erro do marximismo, mas dos Homens que em nome dele governaram. O nosso sistema político não é intrinsecamente mau, mas antes os políticos que o mantêm (e nele se mantêm) é que o tornam mau. Quanto ao poder do povo… Alguém uma vez disse que “um país é o reflexo das suas elites” mas não serão as elites criadas pelo povo?
"Porque poderá haver poder sem subserviência, mas esta não existe sem poder", belas palavras caro Nilson. Porque eu não nego o poder (a anarquia não parte do meu cardápio sócio-político), mas é possível aceitar o poder sem se lhe ser subserviente.
Devo dizer que em TEORIA nenhuma forma de poder ou organização política ou social é necessariamente má (com excepção para as que restringem as liberdades individuais). O grande problema é que todas elas (Marximismo, Liberalismo, Presidencialismo, Monarquias...) são humanas. Tem falhas. Os campos de deportação na Sibéria não são um erro do marximismo, mas dos Homens que em nome dele governaram. O nosso sistema político não é intrinsecamente mau, mas antes os políticos que o mantêm (e nele se mantêm) é que o tornam mau. Quanto ao poder do povo… Alguém uma vez disse que “um país é o reflexo das suas elites” mas não serão as elites criadas pelo povo?
Tuesday, February 15, 2005
Irmã Lúcia, Padroeira dos hipócritas
O local onde exerço a minha actividade fica mesmo em frente á Igreja onde esteve o corpo da Irmã Lúcia. Enquanto desfilavam personalidades, perdão, personagens e populares em frente ás câmaras de televisão e ao aparato mediático que envolveu as cerimónias fúnebres desta personalidade que curiosamente até tinha feito um voto de silêncio, numa das janelas deste edifício estavam alguns “intelectuais iluminados”.
Estes passaram a tarde a observar, quais abutres do alto das arvores, tudo o que se passava na praça. E comentavam entre si o espectáculo patético que era tudo aquilo em volta do funeral. Daí passaram para a agressão gratuita aos crentes e às expressões tão banais e tão enraízas na nossa língua como “deus queira que ganhe o Benfica”. E a hipocrisia de políticos e pesudo-VIP’s que tudo fazem para aparecer em frente a uma objectiva. Falavam da falta de inteligência de pessoas que fizeram excursões E assim passaram a tarde empoleirados na secretária junto da janela.
Eu passava de um lado para o outro nos corredores pensando que a hipocrisia tanto existe a céu aberto como no interior de edifícios imponentes.
Fotografia por Bodikea
O local onde exerço a minha actividade fica mesmo em frente á Igreja onde esteve o corpo da Irmã Lúcia. Enquanto desfilavam personalidades, perdão, personagens e populares em frente ás câmaras de televisão e ao aparato mediático que envolveu as cerimónias fúnebres desta personalidade que curiosamente até tinha feito um voto de silêncio, numa das janelas deste edifício estavam alguns “intelectuais iluminados”.
Estes passaram a tarde a observar, quais abutres do alto das arvores, tudo o que se passava na praça. E comentavam entre si o espectáculo patético que era tudo aquilo em volta do funeral. Daí passaram para a agressão gratuita aos crentes e às expressões tão banais e tão enraízas na nossa língua como “deus queira que ganhe o Benfica”. E a hipocrisia de políticos e pesudo-VIP’s que tudo fazem para aparecer em frente a uma objectiva. Falavam da falta de inteligência de pessoas que fizeram excursões E assim passaram a tarde empoleirados na secretária junto da janela.
Eu passava de um lado para o outro nos corredores pensando que a hipocrisia tanto existe a céu aberto como no interior de edifícios imponentes.
Fotografia por Bodikea
Monday, January 31, 2005
Muralhas do Poder
A vida fora do castelo seguia plácida e cada um regulava a sua vida pelo seu relógio circadiano, oferta do bom deus, e a bem dizer o único bem que possuíam.
Um marido enraivecido pelo ciúme procura a sua mulher, “deve estar embrulhada com o padeiro, aquelas mãos que amassam e dão forma ao pão macio também assim amassarão e darão forma ao prazer carnal da minha mulher”. Noutro ponto da aldeia uma mulher é violada por um grupo de soldados que á falta de melhor soldo, matam assim uma fome de cariz diferente. Quem sabe não será a mulher que alguém procura por ciúme, e quem sabe á noite, ao invés de lhe curar as feridas lhe irá marcar ainda mais o corpo. Não são só os animais que marcam território.
Nestes tempos trabalha-se enquanto á sol e quando ele se põe ruma-se ao lar. Come-se algum pão duro com carne de salmoura enquanto arde a lenha reservada, e poupada, para aquela noite. Não são precisas velas de azeite nem outras comodidades. Quem nada tem não pode nunca desperdiçar. E a luz para que servirá? Para ler? As gentes simples do povo não sabem sequer que a palavra existe noutra forma que não aquela que lhes chega ao ouvido. E mesmo que soubessem, para que serviria um livro quando se tem de trabalhar sob o chicote da fome e dos senhores. Quando a preocupação é alimentar o castelo e só depois o seu próprio estômago não tempo para o supérfluo. E dorme-se nas palhas que amanhã serão dadas como alimento aos animais.
O sol que passava através das muralhas do castelo era apenas uma fracção do que estava para lá dos blocos de pedras ordenados para a segurança da “população do castelo”, assim o diziam os Nobres. Assim segue a vida dentro e fora do castelo. Uns são apenas escravos de outros. As terras e o produto pertencem aos Nobres. Os frades asseguram que Deus é o dono de tudo, mas são eles os administradores dos bens terrenos de Deus.
O poder provém da subserviência que lhe está implícita.
P.S- Os meus agradecimentos à Elyn pela fotografia.
A vida fora do castelo seguia plácida e cada um regulava a sua vida pelo seu relógio circadiano, oferta do bom deus, e a bem dizer o único bem que possuíam.
Um marido enraivecido pelo ciúme procura a sua mulher, “deve estar embrulhada com o padeiro, aquelas mãos que amassam e dão forma ao pão macio também assim amassarão e darão forma ao prazer carnal da minha mulher”. Noutro ponto da aldeia uma mulher é violada por um grupo de soldados que á falta de melhor soldo, matam assim uma fome de cariz diferente. Quem sabe não será a mulher que alguém procura por ciúme, e quem sabe á noite, ao invés de lhe curar as feridas lhe irá marcar ainda mais o corpo. Não são só os animais que marcam território.
Nestes tempos trabalha-se enquanto á sol e quando ele se põe ruma-se ao lar. Come-se algum pão duro com carne de salmoura enquanto arde a lenha reservada, e poupada, para aquela noite. Não são precisas velas de azeite nem outras comodidades. Quem nada tem não pode nunca desperdiçar. E a luz para que servirá? Para ler? As gentes simples do povo não sabem sequer que a palavra existe noutra forma que não aquela que lhes chega ao ouvido. E mesmo que soubessem, para que serviria um livro quando se tem de trabalhar sob o chicote da fome e dos senhores. Quando a preocupação é alimentar o castelo e só depois o seu próprio estômago não tempo para o supérfluo. E dorme-se nas palhas que amanhã serão dadas como alimento aos animais.
O sol que passava através das muralhas do castelo era apenas uma fracção do que estava para lá dos blocos de pedras ordenados para a segurança da “população do castelo”, assim o diziam os Nobres. Assim segue a vida dentro e fora do castelo. Uns são apenas escravos de outros. As terras e o produto pertencem aos Nobres. Os frades asseguram que Deus é o dono de tudo, mas são eles os administradores dos bens terrenos de Deus.
O poder provém da subserviência que lhe está implícita.
P.S- Os meus agradecimentos à Elyn pela fotografia.
Agenda
Encontro de Bloggers em Aveiro no dia 18 de Fevereiro às 21:30, na livraria O Navio de Espelhos.
Este encontro partiu de uma sugestão do Barão d'Holbach e tem sido organizado pela Diva. Mais info aqui.
Aqui fica o meu convite Real.
Encontro de Bloggers em Aveiro no dia 18 de Fevereiro às 21:30, na livraria O Navio de Espelhos.
Este encontro partiu de uma sugestão do Barão d'Holbach e tem sido organizado pela Diva. Mais info aqui.
Aqui fica o meu convite Real.
Wednesday, January 12, 2005
Lacrimejar Fisiológico
Ontem noite comecei a ficar deprimido. Faltava-me qualquer coisa para me animar, para aumentar o meu amor-próprio. Farto de chocolates, decidi ir ao armário buscar alguns miminhos. Tenho sempre alguns guardados num pote para qualquer emergência. Mas esqueci-me que ultimamente tenho consumido demais, ou melhor os que tenho consumido, embora mais do que o normal, não supriram as minhas carências afectivas.
Não tinha miminhos no pote!!!
Passado o choque inicial fui á procura de prozacs… porra, dei-os a amigos mais carenciados. Por falar em amigos, acariciei-me a mim próprio, eu sou o meu melhor amigo e os amigos são para as ocasiões. Souberam-me bem as minhas carícias, mas aquilo que eu queria era diferente, tinha de vir de terceiros. E como tudo na vida tem uma solução, nem que seja a morte, fui a uma loja perto de casa comprar um saco de miminhos. Tinha-os vista na montra quando por lá passei, e no folheto parecia ser um produto com qualidades.
Em casa quando abri a embalagem deparei-me com uma boca sensual e dona de um sorriso de estarrecer. Comecei logo a ficar animado e o nível de amor-próprio subiu uns degraus… O que é isto?!?! A boca está morder-me os calcanhares?!? E o sorriso afinal é de escárnio? Bateu forte no meu cérebro a sensação de ter sido mais uma vítima de publicidade enganosa! Que horas são? Tarde mais, a loja já encerrou! Vou ter de ficar com esta boca durante uma noite inteira.
Descobri nessa noite que a boca falava tal como prometido no panfleto, mas para pena minha, as frases que brotavam em catadupa serviam apenas apenas seu deleite. Para manter vivo o sorriso que escarnecia de mim mesmo que me abstraí-se das palavras. Mas eu não consegui faze-lo. Poderia simplesmente ter destruído a boca, mas fazia-me falta a companhia. E claro, já tinha investido nela, queria pelo menos o reembolso do dinheiro (Não sou forreta, sou poupado!).
De manhã, com a boca debaixo do braço e o ego no lixo, lá foi outra vez á loja. Quando pensei que me ia ver livre deste instrumento de tortura, fiquei triste… amargurado. Tinha-me afeiçoado àquele sorriso e ás frases tão cáusticas que terei de trocar alguns móveis lá em casa. Não chorei porque os homens não choram, mas confesso que o vento frio matinal, a bater nos meus olhos, provocou uma lacrimação fisiológica.
Ontem noite comecei a ficar deprimido. Faltava-me qualquer coisa para me animar, para aumentar o meu amor-próprio. Farto de chocolates, decidi ir ao armário buscar alguns miminhos. Tenho sempre alguns guardados num pote para qualquer emergência. Mas esqueci-me que ultimamente tenho consumido demais, ou melhor os que tenho consumido, embora mais do que o normal, não supriram as minhas carências afectivas.
Não tinha miminhos no pote!!!
Passado o choque inicial fui á procura de prozacs… porra, dei-os a amigos mais carenciados. Por falar em amigos, acariciei-me a mim próprio, eu sou o meu melhor amigo e os amigos são para as ocasiões. Souberam-me bem as minhas carícias, mas aquilo que eu queria era diferente, tinha de vir de terceiros. E como tudo na vida tem uma solução, nem que seja a morte, fui a uma loja perto de casa comprar um saco de miminhos. Tinha-os vista na montra quando por lá passei, e no folheto parecia ser um produto com qualidades.
Em casa quando abri a embalagem deparei-me com uma boca sensual e dona de um sorriso de estarrecer. Comecei logo a ficar animado e o nível de amor-próprio subiu uns degraus… O que é isto?!?! A boca está morder-me os calcanhares?!? E o sorriso afinal é de escárnio? Bateu forte no meu cérebro a sensação de ter sido mais uma vítima de publicidade enganosa! Que horas são? Tarde mais, a loja já encerrou! Vou ter de ficar com esta boca durante uma noite inteira.
Descobri nessa noite que a boca falava tal como prometido no panfleto, mas para pena minha, as frases que brotavam em catadupa serviam apenas apenas seu deleite. Para manter vivo o sorriso que escarnecia de mim mesmo que me abstraí-se das palavras. Mas eu não consegui faze-lo. Poderia simplesmente ter destruído a boca, mas fazia-me falta a companhia. E claro, já tinha investido nela, queria pelo menos o reembolso do dinheiro (Não sou forreta, sou poupado!).
De manhã, com a boca debaixo do braço e o ego no lixo, lá foi outra vez á loja. Quando pensei que me ia ver livre deste instrumento de tortura, fiquei triste… amargurado. Tinha-me afeiçoado àquele sorriso e ás frases tão cáusticas que terei de trocar alguns móveis lá em casa. Não chorei porque os homens não choram, mas confesso que o vento frio matinal, a bater nos meus olhos, provocou uma lacrimação fisiológica.
Bolas de Futebol
As bolas de futebol são um case-study psicológico interessante. Senão vejamos: são criadas para um objectivo final que passa da pura diversão; a escolha de determinada bola de futebol (entre várias e um determinado modelo) num determinado momento é aleatória, ou melhor depende da proximidade e disponibilidade que esteja de um jogador; passam de mãos, perdão, de pé em pé sem possibilidade de escolha; se os remates saem ao lado a culpa é da bola (ou da sapatilha), mas nunca do jogador; e finalmente levam pontapés nos jogos de futebol, e independentemente do facto de um golo ser marcado ou não, são trocadas da forma aleatória durante o jogo.
O mais interessante é que no jogo seguinte estão dispostas a levar pontapés e socos, murros, cabeçadas, pelo simples prazer de contactar com os jogadores, sem nunca dizerem basta, ou sequer se indignarem. Num acesso de esquizofrenia, já vi bolas a sorrir pelo seu destino. E sabem de quem é o mérito dos golos marcados não sabem? Do jogador. Do goleador da equipa.
E na época seguinte lá são elas substituídas por um modelo melhor, enfim, mais recente, não necessariamente mais bonito. Algumas ficam para os treinos das equipas B, mas no fim da sua vida, já ninguém as quer, ninguém se lembra delas. Quando já não pertencem á memória de alguém, sofrem a rejeição absoluta.
Conheço várias bolas de futebol que o são por destino. As bolas se futebol não tem vontade própria pois não?
As bolas de futebol são um case-study psicológico interessante. Senão vejamos: são criadas para um objectivo final que passa da pura diversão; a escolha de determinada bola de futebol (entre várias e um determinado modelo) num determinado momento é aleatória, ou melhor depende da proximidade e disponibilidade que esteja de um jogador; passam de mãos, perdão, de pé em pé sem possibilidade de escolha; se os remates saem ao lado a culpa é da bola (ou da sapatilha), mas nunca do jogador; e finalmente levam pontapés nos jogos de futebol, e independentemente do facto de um golo ser marcado ou não, são trocadas da forma aleatória durante o jogo.
O mais interessante é que no jogo seguinte estão dispostas a levar pontapés e socos, murros, cabeçadas, pelo simples prazer de contactar com os jogadores, sem nunca dizerem basta, ou sequer se indignarem. Num acesso de esquizofrenia, já vi bolas a sorrir pelo seu destino. E sabem de quem é o mérito dos golos marcados não sabem? Do jogador. Do goleador da equipa.
E na época seguinte lá são elas substituídas por um modelo melhor, enfim, mais recente, não necessariamente mais bonito. Algumas ficam para os treinos das equipas B, mas no fim da sua vida, já ninguém as quer, ninguém se lembra delas. Quando já não pertencem á memória de alguém, sofrem a rejeição absoluta.
Conheço várias bolas de futebol que o são por destino. As bolas se futebol não tem vontade própria pois não?
Tuesday, January 11, 2005
Pão e circo
O que o povo quer é pão e circo!
E circo vamos ter até 20 de Fevereiro. E nessa altura vamos também ter pão. Vão estar uns palhaços no meio da arena circense a atirar as mesmas carcaças rijas e bolorentas aos ainda mais palhaços da assistência. Ainda mais palhaços porque pagam entrada cara demais para o espectáculo deprimente que vão assistir. E os que de palhaços só tem o hábito, aqueles do meio da arena, esfregam as mãos de contentamento a imaginar o dinheiro da entrada já em caixa. E enquanto houver dinheiro o espectáculo continua.
Nunca falta audiência para este circo. E o pão escasseia.
O que o povo quer é pão e circo!
E circo vamos ter até 20 de Fevereiro. E nessa altura vamos também ter pão. Vão estar uns palhaços no meio da arena circense a atirar as mesmas carcaças rijas e bolorentas aos ainda mais palhaços da assistência. Ainda mais palhaços porque pagam entrada cara demais para o espectáculo deprimente que vão assistir. E os que de palhaços só tem o hábito, aqueles do meio da arena, esfregam as mãos de contentamento a imaginar o dinheiro da entrada já em caixa. E enquanto houver dinheiro o espectáculo continua.
Nunca falta audiência para este circo. E o pão escasseia.
Wednesday, January 05, 2005
O Fim…
As árvores morrem de pé!
Ou então são cortadas por indígenas pobres a mando de madeireiros sem escrúpulos.
…das Gueixas
Temos é de salvar as baleias... e os golfinhos... e a floresta amazónica... e os animais com pele... e salvar, porque não, a camada de ozono.
Um dia destes salvamos os pretinhos que nos cosem as bolas de futebol e os sapatos de vela. E pelo caminho damos uma lição aos orientais bárbaros que possuem gueixas, e as obrigam a usar ligaduras nos pés.
Cinturas de vespa, lábios grossos, seios enormes e erectos, isso sim é civilização! Nem que se tenha de recorrer aos milagres da cirurgia reconstrutiva. Se um alpinista pode ter um nariz que é parte da testa, porque não poderíamos nós injectarmos silicone nos lábios. Não o poder fazer seria imoral! Que a saúde mental não se compra… mas as lipoaspirações sim!
Todos temos direito á nossa insanidade particular. A minha é acabar com as gueixas.
As árvores morrem de pé!
Ou então são cortadas por indígenas pobres a mando de madeireiros sem escrúpulos.
…das Gueixas
Temos é de salvar as baleias... e os golfinhos... e a floresta amazónica... e os animais com pele... e salvar, porque não, a camada de ozono.
Um dia destes salvamos os pretinhos que nos cosem as bolas de futebol e os sapatos de vela. E pelo caminho damos uma lição aos orientais bárbaros que possuem gueixas, e as obrigam a usar ligaduras nos pés.
Cinturas de vespa, lábios grossos, seios enormes e erectos, isso sim é civilização! Nem que se tenha de recorrer aos milagres da cirurgia reconstrutiva. Se um alpinista pode ter um nariz que é parte da testa, porque não poderíamos nós injectarmos silicone nos lábios. Não o poder fazer seria imoral! Que a saúde mental não se compra… mas as lipoaspirações sim!
Todos temos direito á nossa insanidade particular. A minha é acabar com as gueixas.
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