Monday, January 31, 2005

Muralhas do Poder

A vida fora do castelo seguia plácida e cada um regulava a sua vida pelo seu relógio circadiano, oferta do bom deus, e a bem dizer o único bem que possuíam.

Um marido enraivecido pelo ciúme procura a sua mulher, “deve estar embrulhada com o padeiro, aquelas mãos que amassam e dão forma ao pão macio também assim amassarão e darão forma ao prazer carnal da minha mulher”. Noutro ponto da aldeia uma mulher é violada por um grupo de soldados que á falta de melhor soldo, matam assim uma fome de cariz diferente. Quem sabe não será a mulher que alguém procura por ciúme, e quem sabe á noite, ao invés de lhe curar as feridas lhe irá marcar ainda mais o corpo. Não são só os animais que marcam território.

Nestes tempos trabalha-se enquanto á sol e quando ele se põe ruma-se ao lar. Come-se algum pão duro com carne de salmoura enquanto arde a lenha reservada, e poupada, para aquela noite. Não são precisas velas de azeite nem outras comodidades. Quem nada tem não pode nunca desperdiçar. E a luz para que servirá? Para ler? As gentes simples do povo não sabem sequer que a palavra existe noutra forma que não aquela que lhes chega ao ouvido. E mesmo que soubessem, para que serviria um livro quando se tem de trabalhar sob o chicote da fome e dos senhores. Quando a preocupação é alimentar o castelo e só depois o seu próprio estômago não tempo para o supérfluo. E dorme-se nas palhas que amanhã serão dadas como alimento aos animais.



O sol que passava através das muralhas do castelo era apenas uma fracção do que estava para lá dos blocos de pedras ordenados para a segurança da “população do castelo”, assim o diziam os Nobres. Assim segue a vida dentro e fora do castelo. Uns são apenas escravos de outros. As terras e o produto pertencem aos Nobres. Os frades asseguram que Deus é o dono de tudo, mas são eles os administradores dos bens terrenos de Deus.

O poder provém da subserviência que lhe está implícita.


P.S- Os meus agradecimentos à Elyn pela fotografia.

No comments: