Wednesday, January 12, 2005

Lacrimejar Fisiológico



Ontem noite comecei a ficar deprimido. Faltava-me qualquer coisa para me animar, para aumentar o meu amor-próprio. Farto de chocolates, decidi ir ao armário buscar alguns miminhos. Tenho sempre alguns guardados num pote para qualquer emergência. Mas esqueci-me que ultimamente tenho consumido demais, ou melhor os que tenho consumido, embora mais do que o normal, não supriram as minhas carências afectivas.

Não tinha miminhos no pote!!!

Passado o choque inicial fui á procura de prozacs… porra, dei-os a amigos mais carenciados. Por falar em amigos, acariciei-me a mim próprio, eu sou o meu melhor amigo e os amigos são para as ocasiões. Souberam-me bem as minhas carícias, mas aquilo que eu queria era diferente, tinha de vir de terceiros. E como tudo na vida tem uma solução, nem que seja a morte, fui a uma loja perto de casa comprar um saco de miminhos. Tinha-os vista na montra quando por lá passei, e no folheto parecia ser um produto com qualidades.

Em casa quando abri a embalagem deparei-me com uma boca sensual e dona de um sorriso de estarrecer. Comecei logo a ficar animado e o nível de amor-próprio subiu uns degraus… O que é isto?!?! A boca está morder-me os calcanhares?!? E o sorriso afinal é de escárnio? Bateu forte no meu cérebro a sensação de ter sido mais uma vítima de publicidade enganosa! Que horas são? Tarde mais, a loja já encerrou! Vou ter de ficar com esta boca durante uma noite inteira.



Descobri nessa noite que a boca falava tal como prometido no panfleto, mas para pena minha, as frases que brotavam em catadupa serviam apenas apenas seu deleite. Para manter vivo o sorriso que escarnecia de mim mesmo que me abstraí-se das palavras. Mas eu não consegui faze-lo. Poderia simplesmente ter destruído a boca, mas fazia-me falta a companhia. E claro, já tinha investido nela, queria pelo menos o reembolso do dinheiro (Não sou forreta, sou poupado!).

De manhã, com a boca debaixo do braço e o ego no lixo, lá foi outra vez á loja. Quando pensei que me ia ver livre deste instrumento de tortura, fiquei triste… amargurado. Tinha-me afeiçoado àquele sorriso e ás frases tão cáusticas que terei de trocar alguns móveis lá em casa. Não chorei porque os homens não choram, mas confesso que o vento frio matinal, a bater nos meus olhos, provocou uma lacrimação fisiológica.

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