Wednesday, April 21, 2004

A morte saiu à rua

A morte
Saiu à rua
Num dia assim
Naquele
Lugar sem nome
Pra qualquer fim
(José Afonso)

Não foi a morte, mas o Mouro (já morto) que saiu decidido para a rua. Embora sem destino físico, a decisão estva tomada. Finalmente ia adquirir o meu casal de seres humanos. Tarefa simples, não fosse o obstáculo mais banal de todos. Para um projecto como este preciso de financiamenento. Os humanos podem ter custos de mautenção elevados, e eu não quero comprar uns quaisqueres, e já que os vou ter em casa, também não os quero insatisfeitos (penso mesmo em contratar uma ama para cuidar deles na minha ausência).

Fui a vários bancos pedir dinheiro (não possuo telefone para me sujeitar ás condições de escravatura financeira da cofidis e irmãs, e um Rei é apenas escravo dos seus pensamentos), mas em todos obtive uma mão cheia de negativas. E com razão. A mentira não é boa conselheira, e eu pequei. Nas agências bancárias disse que precisava deles como meus parceiros económicos nesta demanda. Custos baixos, basta que o 1º casal se reproduza com sucesso (e gere crias fêmeas preferencialmente), subcontrata-se uma empresa de acasalamento para as fecundar e no espaço de 2 gerações podemos ter dezenas de humanos. Para quê? Meus caros, as possibilidades estão apenas limitadas à vossa imaginação (tão curta quanto o vosso desejo reprimido em gravatas muito bem alinhadas)! As fêmeas poderão ser usadas para procriação, fecundadas apenas por espécimes seleccionados, ou, algumas menos fecundas e/ou especialmente dotadas em certas áreas, para tarefas iguais ás dos machos. Estes poderão ser usados como mão-de-obra barata na construção, na agricultura, na pesca, poderão ser educados para pintores, escultores, técnicos e cientistas das mais diversas áreas do conhecimento, poderão até ser treinados para vos substituir durante ausências forçadas em campos de golfe, (espanto-me frequentemente com a capacidade que os Humanos tem para aprender) e não é de olvidar a capacidade adpativa destes ás mais diversas condições meteorológicas e climáticas, a todos os sistemas políticos e sociais (acho até eles suportariam alegremente a alternância de regimes totalitários). São ou não são um óptimo investimento?

O meu emprestimo foi negado. Os bancos lucram mais se emprestarem dinheiro para uso pessoal, as taxas de juro para projectos com futuro são menores. Decidi então dizer a verdade. Eu quero um casal de seres humanos para meu deleite pessoal. Não pretendo um jipe nem uma casa de campo, quero apenas um casalzito de seres humanos! E finalmente deram-me dinheiro. E foi no Banco Espírito Santo (será que eles tem alguma relação com deus?)

Comprei-os em lojas separadas, queria que o seu conhecimento mútuo fosse mínimo. Acho que eles se tornam mais aborrecidos quando em bandos, que eles chamam pomposamente “Grupo de Amigos”.

Não vou perder em tempo a descrever-vos pormenorizadamente os casal, até porque vocês certamente já o imaginaram. Além do mais, qualquer casal entre os 18 e os 30 anos de vida serve para o meu projecto, eles são tão iguais na sua aparente diferença.

Levei-os para casa acondicionei-os na gaiola. E finalmente pude sentar-me no sofá a observar-vos.

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