Tuesday, March 16, 2004

Where is the pain? (ou Um Pequito de Dignidade)

“Venha cá sr. dr., rápido!” “então enfermeira?! Está alguém para morrer?” “tenho um caso preocupante em mãos. Um dos pacientes tem o pénis erecto!” “que bom para ele” “mas está assim desde que cá chegou ontem em estado comatoso” “gostaria de ajudar mas sou cardiologista não sou nem urologista nem prostituta!” “que não é urologista eu sei, mas discordo que não passe uma vulgar rameira com diploma...” “como?!?” “… quando trocou o juramento hipocrático, por uma viagem a Cuba, vendeu a sua dignidade!” “…” “conheço bem os argumentos! Os remédios são melhores, são aqueles em que confio, e a saúde está primeiro (principalmente a dos seu filhos), e as pessoas estão habituadas ás caixas de uma certa forma e cor e será difícil habituarem-se a umas diferentes. Porque não lhes passa um atestado de insanidade mental? Assim justificaria de uma vez todas as faltas ao trabalho, às aulas, aos exames… Tenho pena de si. Pobre puta!” “olhe o respeito! Eu não lhe chamo nomes quando me faz fellatios durante as horas de serviço!”

Enquanto se discutiam as implicações da presença de delegados médicos na saúde sexual dos profissionais da doença, senti uma presença, da mesma forma que os ratos sentem os tremores de terra. Não soube quem era nem porque o fez. Mas quando se aproximou do meu corpo inerte, preparado para se aquecer numa fornalha (física ou metafórica), percebi que iria despertar. Tocou-me com ternura no que causava tanta repugnância e incredulidade (e uma pontinha de inveja) aos meus tratadores. E com aquele toque ejaculei toda a minha vida, esvaziou-me de qualquer conteúdo… e finalmente dormi.

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