Ping-Pong
“Ó Mouro, porque é que escreves coisas tão deprimentes?”
Deprimente é a Ágata! Eventualmente escrevo coisas depressivas. Estás tão preocupada com a pontuação e as vírgulas, mas não te preocupas com o significado dos termos que usas? Até pode ser verdade que as palavras nunca são aquilo que pretendemos, mas aquilo que os outros entendem, mas não custa nada ter mais cuidado com aquilo que se diz.
“mas não poderias escrever coisas mais alegres e divertidas (tu até tens algum jeito)? A vida já tão triste.”
Até pode ser triste, e se for esse o caso eu estou aqui apenas para lembrar que podia ser ainda pior. Que o riso de escárnio que baila na tua boca quando alguém escorrega e cai, a piada fácil de sexo que entendes mas recusas admitir, são apenas um sal impuro e contaminado, do qual te alimentas (in)conscientemente para alcançar o torpor da pobreza de espírito. A alegria virá quando tiveres consciencia do que és, e de que, para seres melhor do que os outros, basta que tentes apenas ser melhor do que tu própria. Parece uma daquelas verdades universais, não é? Então porque insistes em ficar feliz com as quedas dos outros?
“Escreves de uma forma tão complexa... não podias explicar aquilo que afinal queres transmitir? Só algumas pistas...”
Podia! Mas se o fizesse estaria a contaminar o teu pensamento. Todas as tuas reflexões iriam ter como ponto de partida as minhas próprias, e nesse ponto deixarias de ser livre. Talvez pudesse ser mais explícito do ponto de vista formal, situar melhor as minhas estórias, poli-las mais. Mas confesso a minha incapacidade para discernir o essencial do acessório quando escrevo. Acredita que é muito fácil ficar enebriado com as palavras per si, e chegar ao final com um prato de nouvelle cuisine, muito bonito mas... ou então como uma bela feijoada, demasiado pesado. Logo, entre escrever de menos e ser pouco explícito, ou escrever só aquilo que para mim é essencial....
“Acho que escreves estórias simples apenas porque te falta capacidade argumentativa!”
Mea culpa! Sim, já o admiti. Ao contrário doutros não consigo esvrever de forma lógica tudo aquilo em que penso. Por isso crio personagens, estórias, recorro a analogias, enfim recorro á minha criatividade. Nunca disse que queria escrever aqui pequenos ensaios acerca de tudo e de nada. Isso não me interessa. Mais do que as minhas próprias reflexões estou mais interessado em fazer reflectir. Considera-me o teu espelho.
“E não tinhas prometido a ti próprio não justificares nada daquilo que escreves, ou porque é que o fazes? Onde pára a tua coerência?“
A minha incoerência reflete a minha personalidade única.
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