Mais um dia quente na cidade.
Quando hoje saí da minha cova, para um passeio matinal, notei que o ar estava irrespirável. Mas eu respirava. Eu e algumas criaturas com que me fui cruzando.
Vi sapos suados, arfando com o calor insopurtável que se sentia. Suando que nem porcos (já alguém viu um porco a suar?), lambendo- o suor de modo a espalha-lo pelo corpo. È sabido que os batráquios prescisam de manter a pele húmida para efecturem trocas gasosas com sucesso.
E que felizes andam os répteis por estes dias. Não há nada como o calor asfixiante para trazer à rua estes animais de sangue frio. Bom, frio, enquanto não chega o calor. Depois, é vê-los de papo para o ar a apanhar sol. A aquecer o sangue já fervente.
E tive a opurtunidade de assistir a um dialogo entre 2 pavões machos que não possuiam as plumas espalhafatosas que os caracterizam. Estes passeavam as suas cadelinhas de estimação, bem presas por trelas.
“Já viu bem a minha cadela? Agrada-lhe?”
“Sim. Sem dúvida. Bem melhor que aquela que tinha na semana passada. Parecia-me demasiado independente. Arraçada de gato talvez.”
“Sim, sim. Por isso é que livrei dela. Veja lá que quando lhe pedia para me trazer o jornal, ela tinha o descaramento de trazer também os chinelos.”
“A cadela! Mesmo que você precisasse deles... onde já se viu! Pensar! As cadelas não pensam obedecem!”
“Mas a sua é muito gira. E parece grávida.”
“Emprenhou com um cão rafeiro. Mas vou matar-lhe as crias assim que nascerem”
“Porque não poupa trabalho e a mata já?”
“É verdade que engravidou, mas não vou arranjar uma tão bonita e obediente tão cedo. E os meus pais gostam muito dela. Não lhes posso dar essa desilusão.”
Tantas mamas encontrei pelo caminho. Grandes, pequenas, moles, pontiagudas (pareciam apontar para a lua). Bem apertadas e também livres, como a natureza as fez. Penduradas de arvóres lá estavam elas. Algumas, mais saborosas decerto, estavam a ser comidas por uns pardalitos que assim matavam a sua sede.
Esta é apenas uma amostra dos pretensos seres humanos que encontrei neste dia de sol, quando o ar está irrespirável, mas eles respiram e sobrevivem.
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