Wednesday, August 13, 2008

Os meus pecados sociais

Fui ao centro comercial. Nada de mais banal e de mais fútil. Tenho um telemóvel novo e quero um cabo para passar músicas do PC que possam servir de toque. Os réis também são fúteis.

Tiro a senha de vez (uma das melhores invenções a seguir ao dinamite), e fico na fila à espera da minha vez. Para entreter o tempo, tento caracterizar cada um dos que estão a atender. Rapazes e raparigas relativamente novos, 6 no total, todos bem embrulhadinhos nos seus uniformes que para os homens são umas camisas de azul mortiço, e para as mulheres umas camisas vermelho vivo estampadas com o logótipo da empresas. Quatro atendiam os clientes, embora a definição de cliente aqui esteja mal empregue, pois só serei cliente após uma compra... não será assim? Outro está a tirar faxes e fotocópias. Mas aquela que me prende a atenção está simplesmente sentada no tampo de um pequeno bacão na parte de trás da loja. Não sei se que o me prende o olhar é facto de estar vestido com uma camisa-uniforme diferente, se é o facto de estar ali ocupadíssima a abanar as pernas e a olhar o vazio ou por rosto delo me ser vagamente familiar.

Chega finalmente a minha vez, como tinha alguma pressa já tinha pensado na forma de formular a pergunta (estou sempre com pressa de sair de grandes superfícies comerciais, sufocam-me. Não pelo por ser um marxista-leninista devoto, mas porque não gosto de ajuntamentos de pessoas, sinto que me roubam o ar... todas aquelas luzes confusão de sons, são demasiados estímulos para o meu cérebro. Sinto que não estou a ali).

Quando me aproximo do balcão, aqueles olhos fixam-me, e dos lábios brota um banalíssimo “olá! Tudo bem?” Quase sem entoação, mecânico. Reconhecia-a. Recompus-me, abanei a cabeça e disse olá. Fiz a pergunta o mais rapidamente possível (não tinham o que procurava) balbuciei um “tudo bem contigo?” e saí o mais rapidamente possível dali.

Não sei porque agi desta forma. Como se tivesse vergonha dela. Na verdade fiquei surpreendido por a encontrar naquela situação. sabia que estuda uma licenciatura qualquer de ensino, e surpreendeu-me um pouco que estivesse num domingo á tarde numa loja daquelas. Estava mais velha do que nem recordava. Já não era aquela miúda de 15 anos que conheci quando era escuteira. Que se sentava em frente mim e se entretinha a cruzar e descruzar as pernas vestida com uma daquelas saias-uniforme dos escuteiros. Nunca fora extraordinariamente bonita, mas aquele acto encerrava em si toda a sensualidade dum acto rebelde de adolescência. (entendamo-nos... eu tinha apenas 17 anos e nunca lhe toquei – infelizmente!). A idade alterou-lhe os traços do rosto, daí não ter reconhecido. Acentou-lhe os piores tracos do rosto. Tornou-se uma mulher como tantas outras, vulgar, monótona, com o charme e o magnetismo de um tupperware. Quanto a mim o tempo apenas me deu mais idade.

Na verdade a minha fuga não foi dela. Foi de mim próprio. De ver reconhecido ali o meu fantasma do tempo passado. De uma idade que eu era ingénuo e (quase) inocente com uma agravante: tinha a veleidade de me julgar esperto.

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