"A minha geração, já se calou, já se perdeu, já amuou,
já se cansou, desapareceu, ou então casou, ou então mudou
ou então morreu: já se acabou.
A minha geração de hedonistas e de ateus, de anti-clubistas,
de anarquistas, deprimidos e de artistas e de autistas
estatelou-se docemente contra o céu.
A minha geração ironizou o coração, alimentou a confusão
brincou às mil revoluções amando gestos e protestos e canções,
pelo seu estilo controverso.
A minha geração, só se comove com excessos, com hecatombes,
com acessos de bruta cólera, de morte, de miséria, de mentiras,
de reflexos da sua funda castração.
A minha geração é a herdeira do silêncio,
dos grandes paizinhos do céu,
da indecência, do abuso.
E um belo dia fez-se à vida,
na cegueira do comércio
A minha geração é toda a minha solidão, é flor da minha ausência, sonho vão,
aparição, presságio, fogo de artifício, toda vício, toda boca
e pouca coisa na mão.
Vai minha geração, ergue a cabeça e solta os teus filhos no esplendor do lixo e do descuido, deixa-te ir enquanto o sabor acre da desistência vai
corroendo a doçura da sua infância.
Vai minha geração, reage, diz que não é nada assim,
que é um lamentável engano, erro tipográfico, estatística imprecisa, puro preconceito, que o teu único defeito é ter demasiadas qualidades e tropeçar nelas.
Vai minha geração, explica bem alto a toda a gente que és por demais inteligente, para sujar as mãos neste processo, triste traste de Deus.
De fingir que o nosso destino é ser um bocadinho melhor do que antes.
Vai minha geração, nasceste cansada, mimada, doente, por tudo e por nada, com medo de ser inventada
O que é que te falta, agora que não te falta nada?
Poderá uma pobre canção contribuir para a tua regeneração ou só te resta morrer desintegrada?
Mas minha geração, valeu a t’apaça, até teve graça, tanta conversa, tanta utopia tonta, tanto copo, e a comida estava óptima! O que vamos fazer?"
Thursday, November 01, 2007
Um poema/Canção de JP Simões
Subscribe to:
Post Comments (Atom)
3 comments:
entao k vamos fazer?
Bem visto...
vamos fazer a digestão que a comida estava boa. Ou isso ou suicídio colectivo.
Post a Comment