Lex Natura
Quando era miúdo resolvi passar o tempo a observar os casais de pombos que esvoaçavam perto de minha casa. Pombos tão branquinhos… tão monótonos.
Como criança que era (e sou) detestava a monotonia. Peguei na minha pressão de ar para dar um pouco mais de cor ao cenário. Um tiro certeiro e… Acabei com a monotonia! O vermelho do sangue a escorrer pelas penas branquinhas fez-me lembrar os beirais da casa em plenas chuvadas de Inverno.
As crianças possuem requintes de malvadez (inocente?) dignos de um livro do Marquês, dum filme do consagrado Arquitecto, ou, no seu expoente máximo, de algumas passagens da Bíblia que alguns consideram sagrada. Poderia discorrer acerca de como os crentes se podem considerar crianças ainda à espera do auge intelectual, mas não o farei por respeito ás crianças que hão-de realmente crescer.
Estava a falar de malvadez. Eu, criança, quando dei cor ao pombo (XX ou XY, não interessa) fi-lo apenas a um dos consortes. O meu propósito? Bom, eu já na altura tinha umas pinceladas de etólogo, principalmente de Homo sapiens (reparem que o nome científico está formalmente correcto). Queria apenas saber como se comportaria a outra metade do casal. Ficaria estarrecido a observar o seu parceiro a morrer (qual condutor que para no meio da via para ver os destroços dos acidentes – chapa e ossos), mesmo sabendo que o seu final estaria próximo? Ou então, será que ficaria num estado de letargia, induzida pelo choque, tão intenso que nem lhe ocorreria fugir? Ou fugiria covardemente, perdão, pragmaticamente, antes que tivesse o mesmo fim da sua cara-metade? (as contas são fáceis, ½ é maior que 0/0, que não se pode calcular)
Bom, a natureza manda que o único objectivo (ou o objectivo final) seja a perpetuação da espécie, ou seja, se tivermos tempo e energia para executar uma única acção, essa acção deverá ser a cópula! E morreu um dos membros do casal, mas não o outro. E a natureza manda.
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