Sunday, February 29, 2004

Á uns dias tive um sonho.
Não costumo sonhar, mas ultimamente este cenário tem-se repetido. A parte chata é que depois dos sonhos não consigo dormir, e até os mortos precisam de descanso… “descanse em paz... Paz eterna á sua alma” sempre fazem algum sentido. O não dormir não se deverá ao conteúdo do sonho em si, pois “…for there is nothing either god or bad, but thinking makes it so…”, William S. disse-o (entre duas passas) e com razão.
No meu último sonho vagueava num pinhal… ou melhor descia vertiginosamente de bicicleta, até começar a subir uma colina, ou pequeno monte, já a pé (até nos sonhos sou comodista). E enquanto caminhava, discutia comigo próprio (sou a minha melhor companhia) a razão da existência de “ambientalistas”, particularmente dos radicais, e se não necessitariam eles da falta de zelo dos outros humanos para terem uma razão para existir, da mesma forma que as religiões precisam de infiéis (o que seria da fé se não tivesse existido antes a ausência dela). Subitamente (e já estava quase a alcançar o topo do monte) começa a correr água, vinda do nada, ou de um lugar que eu não distingo, que é equivalente ao nada, na nossa visão egocêntrica. E como o caudal aumenta com grande velocidade penso em descer o monte… não! Assim ficaria numa zona baixa e afogar-me-ia certamente. Corro para alcançar o cimo do monte rapidamente, mas enquanto galgo em largas passadas a água, desequilibro-me e rolo encosta abaixo… mais uma folha seca ao sabor da corrente… E acordo.
Não acordei envolto em suores frios nem molhado como no fim de um sonho erótico. Acordei.
Por entre várias explicações para este sonho, algumas metafísicas, algumas racionais, umas tão más quanto as outras, duas apareceram na minha cabeça. O monte é a uma espécie de escalada profissional que tento fazer, mas que antevejo não conseguir. E a enxurrada traduz toda a minha preocupação, tal como a incerteza do caminho a seguir, será aquilo que eu ainda não sei, mas optimista como sempre, irei rolar docemente colina abaixo. Os ambientalistas estão ali para atrapalhar a interpretação, uma piada das vozinhas que estão dentro da minha cabeça.
E se for a loucura, a vertigem de descobrir o corpo de uma Mulher? O prazer de descobrir ambiciosamente os recantos do seu corpo, os beijos e carícias ofegantes, a subida lenta e deliciosamente penosa da penetração… o jacto orgásmico que se adivinha e que se pretende prolongar, mas num momento de egoísmo não se retém mas antes se deixa sair violentamente (antes o meu prazer que o de nenhum de nós)… e o receio, a culpa, a queda em desgraça de não proporcionar prazer a quem tanto bem fez por mim… (os ambientalistas são mais uma vez um pormenor À irmãos Cohen)

Belas e plausíveis explicações…

Nessa manhã posterior ao sonho estava com pressa, e tentava ir o mais depressa possível de carro, até que apanhei à minha frente alguém com muito menos pressa. E ainda tive de fazer um pequeno desvio devido ao facto da estrada estar cortada pela companhia de água canalizada. Simultâneamente ouvi na rádio que o governo tinha anunciado uma aumento da separação dos lixos domésticos pelos portugueses em 2003 (comparação com 2002). Um dirigente duma associação ambientalista contestava heroicamente os valores do governo, usando argumentos de estatística (as contas estavam mal feitas segundo a sua opinião). Claro que o dia foi miserável para mim (experimentem dormir 4 horas por dia durante vários dias, e ainda ter sonhos estúpidos), mas no regresso à mouraria caiu sobre o carro uma monumental e abençoada bátega de água. Mais um dia banal.
Esta explicação pode não ser mais poética, ou aquela que seduzirá mais os estudiosos dos sonhos e outros sonhadores, mas continuo a pensar que os sonhos são como prostitutas, que existem para satisfazer os nossos desejos mais escondidos, mesmo aqueles que ainda não conhecemos.

Tuesday, February 24, 2004

Eu vi um morto

Talvez por ser um dia tão importante para a cultura ocidental, neste dia festivo de carnaval, passou por mim um carro fúnebre. Não sei se conteria um morto no interior, mas pouco me importa. Ou melhor, estou a imaginar o gozo dele a observar-nos caricaturados de pessoas, ébrios de emoção, a pulular ao som de batidas repetitivas e letras de escola primária, felizes e contentes por sermos humanos. Enquanto que ele do alto da sua sabedoria de morto, no s comtempla fascinado.
Será que também era assim? Com podia ser tão fútil! Não deveria ter morrido. Quero ressussitar para sofrer a dor de saber o que sou, apenas mais um ser humano. Morrer parece-me agora uma benesse divina, um saber não merecido (copiei no teste e passei) tudo menos um qualquer castigo por ter sido, ou ter deixado de ser, algo em vida.
Assim pensará o morto. Assim pensou o Mouro quando morreu. Mas o Mouro ainda existe para sentir a dor de saber quem é.
E vagueio pela cidade...
Na cidade vazia, é mais fácil notar toda a sua beleza e envolvência emocional. Ficamos com espaço para nós e para os nossos pensamentos. O vazio que se sente é um estímulo incrivel. Mas também é mais fácil notar a mancha no casaco branco do que no cachecol garrido. Foi assim que eu vi um morto. É ainda um vagabundo, um indigente, que berra uma qualquer canção, efeitos secindários do delirium tremens, ou apenas loucura. Este homem está morto e ainda não o sabe.
Ao pensar nele não me passa pela cabeça nenhum sentimento de revolta pela injustiça da vida, nem me sinto culpado pela desgraça que o levou aquele estado. Não conheço o seu passado. Também não quero nem vou mexer uma palha para aliviar o seu sofrimento (não possuo armas de fogo ou outras). Não sei se ele é assim porque quer.
A única coisa que me ocorre, é a forma como a miséria humana salta mais á vista quando a cidade está vazia, e os homens do lixo estão de férias.

Monday, February 23, 2004

Eu sou um pato...

Qua, qua…
E grasno… qua, qua…
Ali em baixo estão os caçadores… deixa-me fugir, qua, qua… mas o que é que eu fiz?! Como me descobriram? Sou tão silencioso… qua, qua… não disparem que eu não vou faço mal... qua, qua…

Ó mãe! Olha o patinho tão bonito! Deixa-me levá-lo para casa! Tão bonitinho… mas está ferido! Espero que não seja como naquela estória estúpida e ele se transforme em cisne! Os cisnes não fazem bons guisados, pois não mãe? Daqui a uns meses se o alimentarmos bem dará uma refeição… humm… vinhos de alho e arroz dos chinocas. Vamos levá-lo mãe!

Eu sou um pato.
Sigo na frente do bando apenas porque grasno mais do que o outros. Sigo sem vontade própria sempre para sul, apenas porque a natureza assim mo ordena. Quero ficar no meio do bando, para ser mais facilmente atingido pelos caçadores. E ser erguido como troféu de masculinadade, “o meu é mais pesado do que o teu” “mas atiras-te ao bando maior, logo, a probabilidade de atingires mais e maiores é superior minha, que apenas atinjo o que me interessa” “isso torna-te tão pato como o que ergo na minha mão” “eu como o que caço” “eu como antes de vir caçar”.

Eu sou um pato... qua... qua...
E todos os anos voo para sul, e volto para o sul que já foi norte. Sempre á procura do calor, sigo cegamente as estações do ano, para me encontrar irremediavelmente frio e a querer partir de novo. Já tentei ficar num único local durante todo o ano, e resisti estóicamente no ninho, suportando o frio e o vento, até me dessensibiliza,r e qual homem da caverna de platão, assumir que o frio é apenas pouco calor e é todo o que necessito! Até chegar a primavera e lembrar-me afinal o calor é mais do que um coneito fisico. O calor é a minha anfetamina, o que faz voar milhares de kilometros para negociar com o meu farmacêutico favorito...
Eu sou um pato, qua... qua...
está na minha natureza voltar e partir, mesmo sabendo todos os perigos que daí advém, e caio em todas as armadilhas, sigo hipnotizado todos os assobios dos caçadores.

Eu começo a ficar farto da sazonalidade das minhas emoções.

Sunday, February 15, 2004

God is in the house...

Está cá Deus?!? Mas … who the fuck is God?!
È aquele de barbas brancas, com um copo de sumo na mão? Deiam-me sumo daquele! Já viste o olhar contente e quase alucinado dele? Tem estado a meter vodka no sumo… Pode ser Deus, mas não é parvo de certeza.

Apresenta-mo.

Estás bom? Sim, eu sou o Mouro que gostaria de ter um casal de seres humanos lá em casa. Achas que é muito difícil mantê-los? O barulho do sexo não me incomoda, desde que não procriem. Sempre são mais bocas para alimentar depois.
Tens de me dizer como consegues ser o mesmo Deus de três religiões diferentes, o que significa que tens muitos seres humanos por tua conta, e mesmo assim permites que eles se degladiem entre si ciclicamente… Humm, percebo. Razões financeiras… quantos mais, maiores os gastos de manutenção.
E no entanto o teu poder advém do número de humanos que te prestam culto, ou pelo menos, acreditam em ti, não? Se deixas que se matem, não começará a balança a pender em favor de outros Deuses? Não é apenas uma questão de número mas de qualidade… ou seja, o culto de um fanático vale mais do que 10 que acreditam mas não vão à missa. Gosto da tua maneira de pensar.

Sim, tens razão… estou muito interessado nas regras dos Deuses. Uma vez que vou criar uma civilização lá em casa, estou prestes a entrar no clube… e espero que seja pela porta grande. Claro que vou proibir livros na jaula. Não quero que os meus humanos acreditem em falsos ídolos… e vou não os vou deixara criar televisão, ou outras formas de entretenimento. Vão ter como solução única para matar o tempo (pelo menos até começarem uma guerra entre eles) o Sexo! Faz bem à pele e tudo.

E aquelas coisas das criancinhas a morrer de fome não te incomoda? Tão mirradinhas, coitadas. Fazem-me lembrar uns figuitos passados… ou então as passas do Bolo-rei. Sabe mesmo bem no Natal. Também te parecem isso?! Ainda bem, por momentos pensei que estivesse a ficar louco. E se morrerem que se lixe. Afinal de contas iriam consumir demasiado oxigénio necessário aos que prestam culto. E são alimento para a terra. Nada se cria, nada se perde tudo se transforma! (este não chegou a ser queimado pois não?)
Não me digas que discordas-te do circo da inquisição!?!? Deu-te má reputação? Não ligues aos media… eles fatram-se de queimar pessoas por menos. E aquilo é que era um espectáculo de pirotecnia à séria! E os gajos queriam explicar coisas que só explicáveis pelo teu poder e vontade! Morram queimados! Ciência… pfui… só a teologia merece esse nome.

Afinal vou conceder um livro aos meus humanos. Vai ser uma antologia daquilo que escrevo. Vai ser porreiro ver as más interpretações que irão fazer das minhas palavras. Melhor! Já os vejo a ver leis onde existem pensamentos, e a levar à letra cada frase, cada momento de neurose minha. Vou piorar-lhes as coisas escrevendo as minhas alucinações e os meus momentos de esquizofrenia. Um dia destes escrevo acerca do dia em vi paraquedistas a descer dos céus com lança-chamas, ao som de Mozart e Iron Maiden. Foi nesse dia que deixei de beber chá de cogumelos após as refeições. Passei para o absinto puro… Vou deixar que as vozinhas na minha cabeça tomem conta de mim e escrevam o livro…

Não me deixas ter um casal de humanos? Então porquê? Eu prometo que não os mato! Deixa!
Sabes bem que é o último passo antes da ascensão ao nível seguinte… já fui Anjo e Diabo. E que diabo! Descobri que afinal não são muito diferentes. Estão apenas em estádio de evolução diferentes. Os Diabos já sabem o que querem, e os Anjos, querem-no sem o saber. E descobri estou a descobrir que sou quase Super-Homem… Nem que para isso tenha de morrer. Não aceito o lugar de teu acessor! Não quero ser uma criatura de Deus, ou dele derivada, quando posso ser Deus e criar criaturas. Não faz parte das minhas preferências sexuais ficar de cócoras!

Gostei de te conhecer. Eu pago-te um desses “sumos” quando entrar no clube. Podes dar-me o endereço da loja onde compras-te o teu primeiro casal de humanos?

Não podemos ver as coisas as preto e branco… nem em gradientes de cinzento, afinal não somos cães. O mundo é cor de rosa choque e azul bebé.

Friday, February 13, 2004

Olá meninos... (trilogia do amor III)

Hoje vou contar-vos a última estória de amor desta trilogia dedicada ao Santo Valentim!
Esta é a estória de um homem que tinha uma coisa que todos os meninos vão querer quando forem grandes... não Rúben... não é um SLK! (e sei que tu gostas de ser tratado por Rubinho). Bem, se tiveres um SLK talvez não precises do que o sr. tinha.
Este sr. Tinha um pénis grande, bem, não era grande – era enorme!
De que tamanho? Digamos que havia quem dissesse que ele tinha um gato entre as pernas.

Conheci-o, já adulto, num local público, e fomos apresentados por amigos que me contaram depois a estória. Perto dele respirava-se uma paz podre... hummm... este conceito é demasiado complexo para vocês, mas, imagem uma daquelas frutas muito bonitas que estão nos supermercados... provem-na... e não sabe muito bem, pelo menos não tão bem como aqueles do pomar da avó da pitinha. E Rúben, perdão, Rubinho, as maçãs não vem de fábricas, crescem numas árvores que se chamam macieiras... exactamente, têm o mesmo nome da bebida com que o teu pai se emborracha e diz aos amigos que é cognac.

E este senhor, olhado com respeito e admiração (e uma pontinha de inveja) durante toda a sua juventude, pelos outros homens, apaixonou-se. Foi logo pela rapariga mais pretendida da aldeia. Era bonita, espirituosa, prendada.
Não sabes o que é prendada, zita?
Pois bem, prendadas são aquelas mulheres modernas que sabem lavar a louça, passar a ferro e até cozinham.
E ela também se apaixonou... por ele. E como há coisas que nunca mudam, os dois noivaram, mas sempre sem contacto sexual. Até à vespera do casamento!
Nessa noite resolveram fugir, para que ela se iniciasse na vida sexual antes do casamento. Tal como a tua mãe Rubinho, só que ela iniciou-se antes de cada casamento para o qual era convidada após os 14 anos.

Continuando a estória....

Encontraram-se ás escondidas e quando ele se despiu para dar início à cópula... a rapariga quase desfaleceu. “tás parvo! Achas que algum dia eu ia ter isso dentro de mim! Mais vale ir ter com o Conde Vlad para ele me empalar!” “Mas, amor... nós vamos casar... e mesmo que não queiras fazê-lo agora, vamos ter de fazê-lo quando formos marido e mulher... faz parte do contrato!” “se houver casamento” “não me faças isso... eu gosto muito de ti” “eu também... mas porra... não podias ter um pénis mais pequeno?” “eu sempre achei que fosse uma dádiva de Deus... todos os meus amigos me invejam esta sorte” “então vai sodomizá-los! A mim essa coisa não me toca... adeus... o noivado está terminado”
Devem imaginar o desespero do sr.! com uma erecção do tamanho de um bébé, e sem uma mulher a quem dá-la! E sim... o coração dele ficou despedaçado.
E tentou de tudo para a reaver a sua amada. Falou com os pais, prometeu mundos e fundos (principalmente fundos), pediu ao padre para interceder em seu auxilio, pois amor daquele tamanho jamais se viu na vila. Nada resultou.

Ela embora o amasse até á loucura, sentia-se incapaz de o ajudar. Quanto mais via quanto o amor dele era verdadeiro, mais intensas eram os sonhos e as visões do pénis, fustigando-a nas costas como um chicote que faz amor nas costas de um escravo. E manteve-se irredutivel na sua decisão. Não casaria com aquele pénis!

Como naqueles tempos o pais estava em guerra, nas colónias africanas, o sr. teve de ir para lá combater pela pátria. Ò Mutumbo, fica aí caladito no canto que eu não falei para ti... O sr. era um homem bondoso e foi acabar com a sobrepopulação que havia em àfrica! O que é achas que ele lá foi fazer?!?

A sua personalidade já combalida pela perda a mulher amada, ficou ainda mais amargurada com os horrores da guerra. Felizmente para o sr. a anatomia peniana dos homens africanos era muito semelhante à sua, e as mulheres aceitavam-no de bom grado...
Por momentos (o tempo de um orgasmo) ele foi feliz, mas não lhe sai da cabeça a amada. E deixou tudo em áfrica, uma mulher, um rancho de garotos e até uma quinta com ovelhas, para vir, mais uma vez, tentar conquistar a amada!
Mas quando cá chegou... já o Salazar tinha caído da cadeira. E já a amada era amada mas por outro, que a tinha desposado. E tinham filhos (= a tinham feito sexo).
E ele enlouqueceu....passou-se da cabeça.... quis matar toda a gente... a amada, o marido da amada, o filho deles, todos!!!
Mas não o fez.
Agora vagueia por aí sozinho, armado segundo dizem, a recordar a mulher amada em confidências com os amigos, e á procura de rameiras que satizfaçam o seu pénis.

Como acaba a estória Rubinho? Já acabou, ou melhor, pode ser que ainda haja mortes, mas tudo o que eu dissesse a mais seria especular, e eu deixo isso para a tua mãe. Afinal ela é que é jornalista. Eu só conto estórias.
E como trabalho de casa quero que amanhã os meninos e as meninas me digam, depois de pensar, qual ou quais as coisas que as três estórinhas felizes de amor têm em comum. E eu vou dar um chocolate a quem tiver a resposta acertada, e outro, a quem tiver a resposta mais criativa.

Bom dia dos namorados!!!! E lembrem-se sempre que ainda há guerra no burundi, no zaire, congo, afeganistão, iraque....

Tuesday, February 10, 2004

Amor platónico com uma Puta! (trilogia do amor II)

Podiam ser qualquer outra coisa. Poderiam ser artistas plásticos, vigaristas, cobradores de impostos, todas as possibilidades de ocupação de tempo útil de vida. Mas escolheram estas actividades. Ele porque quis morrer desta forma, consumido pelo álcool lentamente, num torpor etílico, uma queima das fitas eterna. Ela tinha de ganhar a vida, e aquela actividade pareceu-lhe tão boa como qualquer outra. Se haveria de apanhar porrada do marido e tomar conta dos filhos, inicia na vida sexual adolescentes e é esfaqueada ocasionalmente pelo proxeneta de serviço.
E encontraram-se. Num local que se assemelha ao Reino de Hades, mais polido e com brilho, mas os infernos são todos iguais, só muda o nome e as razões pelas quais lá queremos entrar.
Não interessa como começou a relação entre eles. O que interessa é o pacto por eles estabelecido de modo a que a relação não terminasse. Ele pediu-lhe apenas que ela não lhe pedisse jamais para deixar o álcool. Ela queria apenas que ele a deixa-se prostituir-se. Pouco razoável? Talvez. Mas o objectivo de vida dele era a morte. Devido ao álcool.
E assim viveram durante uns tempos. E foram felizes. Ela ajudava-o nas suas crises de delirium tremens e ele limitava-se a gostar dela. Algumas vezes durante períodos mais arrojados e felizes tentaram fazer sexo, mas nunca resultou. O álcool já estava a surtir efeito, e ele não conseguia sequer ter ou manter uma erecção, por mais que ela se esforçasse. Sem a capacidade reprodutora, ele já não servia de nada para a mãe natureza. Mas servia para a prostituta.
Como acaba esta estória? Como todas as estórias de amor felizes. Ele morre entre convulsões e vómitos, enquanto que ela tenta desesperadamente arrancar-lhe o orgasmo final e impossível.

(sinopse muito livre, e com a minha visão particular do filme “Morrer em Las Vegas”)
Virgem Viúva (trilogia do amor I)


A maria conheceu o josé, e logo se apaixonaram.
O amor que sentiam passou inevitavelmente do plano emocinal para o físico. Ou melhor... passou mas não completamente. Ambos queriam que a união do seu amor fosse completa e total, mas infelizmente a Maria queria casar Virgem.
José, que estava completamente louco, disse que estava bem. Respeitava a decisão da Maria, mas teriam de casar rapidamente.
E assim foi. Uma bela cerimónia com padre e tudo. Familia e amigos, comida e vinho.
No meio da confusão a Maria, ansiosa de tanto esperar e desejosa de finalmente se unir com o homem que amava, pegou numa garrafa de vinho, no José, e foram para cave.
Abraçaram-se por todo o lado, perseguiram-se terna e ansiosamente, beijos, abraços... e caíram no chão...

Ohhhh.... não... NÃO!!!!!!!

O josé caiu em cima de um encinho que ali estava distraído. E esvaiu-se em sangue manchando o branco puro do vestido de noiva.

Hoje a Maria vive infeliz não consumou o seu amor nem sequer sabe o que teria sentido. Pois se um dia foi uma noiva virgem, agora não passa de uma virgem viúva.

(adaptação muito livre de “Virgen bride” dos Morphine, albúm “B-Sides and Otherwise”)
Cardiologia

Fui novamente ao local de peregrinação dos Humanos. E reparei que devia haver uma convenção de cardiologistas tal a quantidade de corações de todos os tamanhos e feitios que se encontravam expostos nos altares. Que ironia. E logo em locais onde se respira sáude e se come comida recomendada pelas melhores Igrejas.
Mas não. Não era uma reunião de cardiolgistas. Esses tinham ido para Trinidade e Tobago onde se faz investigação de topo na área. Os corações deviam-se à comemoração de um feriado religioso: O dia de São Valentim.
Inspirado por este clima de felicidade e vendo os festejos que decorrem no Uganda resolvi escrever algumas pequenas estórias de amor.

Monday, February 09, 2004

A Carta ou a Angústia

Aquele era o dia. Após tanto tempo à espera, chegaria finalmente a carta. Já fiz todas a as previsões possíveis, para todas as respostas possíveis e impossíveis. Sim., sinto que estou preparado para tudo. Estou calmo, consciente e firme. Confiante que tenho uma reacção preparada para cada eventualidade.

Passa o tempo…

Começo a inventar formas de me ocupar enquanto não chega o carteiro. Faço um lanche preparo um café, ouço uma música… faço filmes na minha cabeça. Hhhhaaaaa… quando a resposta chegar! Limpo o escritório daqueles papéis que não interessam… limpo a minha cabeça de maus pensamentos.
Não que a carta vá alterar a minha vida, ou vai? “claro que vai seu estúpido, senão não estarias tão ansioso” “está bem, a carta é importante, mas tens alternativas… não tens?” “a alternativa dele é estar calado… estes seres humanos não passam de corpos inanimados cuja energia potencial é inversa à cinética, e ambas se dissipam assim que o chão interrompe a sua queda” ”este é um humano diferente” “isso é o que todos eles pensam, mas não admitem – são todos igualmente estúpidos” “vais ver, assim que a carta chegar tudo vai mudar, a o movimento que gerará será imparável…” “até ao chão” “…” calem-se! As vozes na minha cabeça estão a dar comigo em doido…desapareçam! Estava tão bem sem vocês.
“brincadeirinha…” “…sabes que já não passas sem nós…” “… nós somos a mão que coça na ferida quase sarada…” “… até sangrar novamente…” “… mantemos-te em carne viva…” “… e tu gostas!”
Eu só quero que chegue a carta. A pior resposta é a ausência de resposta.

Por esta altura já estou a imaginar o que poderá ter sucedido. Terei escrito mal o meu endereço… Haverá incompetência de alguma secretária de pernas abertas… Carteiro frustrado com o salário, que resolve vingar-se nos utentes… Ou estará a minha casa no cimo de um monte demasiado alto para subir de bicicleta… as teorias de conspiração começam a envolver-me como nevoeiro sebastianino, um processo Kafkiano.
Terá sido a carta apreendida por suspeitas de traição á nação… e já alguém se lembrou de prender a nação por traição aos cidadões?
Não quero pensar mais no atraso da carta… ansiosamente aguardo, caminhando de um lado para o outro na sala cavando um fosso (que saudades das bandas desenhadas do Pato Donald), ou será a minha cova?
Por fim o desespero acabou. Não querendo parecer demasiado ansioso, fui buscar calmamente a carta, demorando todo o tempo do mundo (alguns milésimos de segundo). Calado como na missa, pousei a carta e abria-a…

PUMMMMMM!!!!!!!!

Estava armadilhada! Bastou uma fracção demasiado grande de tempo para pedaços do meu corpo voarem em direcções aleatórias e pintarem nas paredes um quadro surrealista de sangue e pedaços de carne parcialmente carbonizada.
Finalmente tinha uma resposta. E não estava preparado para ela. Também… já não me adiantava de muito. As vozinhas dentro da minha cabeça tinham mais uma vez razão… A carta mudou de facto com a minha vida. Mexeu mesmo muito comigo.

Após o meu o funeral chegou outra carta àquela que foi a minha casa. Era um pedido de desculpas. Um terrorista incompetente tinha-se enganado na morada. Os meus pedaços ficaram muito mais contentes.


Thursday, February 05, 2004

Na mouraria não há vontade de escrever... quando se ouve 3 albuns de seguida de Nick Cave and The Bad Seeds (e sublinho as más sementes), Nocturama, The Boatman's Call e No more Shall we Parte... invade-me uma certa sensação de humildade... mas isto passa-me...
Sem contar que ontem a ir para casa já a horas tardias tive o prazer de escutar, que saudades, o projecto Ovelha Negra, não sei o titulo do single, mas que se lixe é bom! e hoje para começar bem o dia, nada com os Três tristes Tigres com Zap Canal. quando se ouvem 2 músicas portuguesas tão brilhantes fico a pensar como é possivel que os albúm mais vendido de 2003 seja dos Tribalistas!

Tuesday, February 03, 2004

A queda de um Anjo, ou, Um prédio na Rua da Sedução

Enquanto criança, gostava do risco. Subia a um dos prédios vizinhos em construção, e ficava nos buracos das paredes, que mais tarde seriam, janelas, varandas… E ficava com o olhar perdido em nada, absorto com os meus pensamentos, solto de tudo… e invariavelmente caía do prédio abaixo. Descuidos de criança. Magoava-me. Nada de especial, contusões, luxações, dores que passam logo que surgem uma nova brincadeira com os amigos.
E voltava a subir aos prédios e a abeirar-me das janelas. Mas subia cada vez mais alto, e de mais alto caía. Achei que a sedução da queda não era normal, mas aqueles momentos antes da queda em que me sentava olhando o mundo de cima, pensando que era feliz… e os milésimos de segundo em que dura a queda… são muito mais do que a vertigem da velocidade, a necessidade de auto-destruição… era nessa fracção infinitesimal de tempo, que era melhor que todos. Sabia que ia cair, chorar, berrar, jurar a pés juntos que nunca mais o faria, e no entanto… sabia que não morreria. Passados uns tempos já estaria de pé, ou então a rastejar agarrado aos andaimes, a tentar alcançar uma janela mais alta.
Cresci. E o meu corpo mudou. Os ossos perderam maleabilidade e os músculos, o que ganharam em força, perderam 2 vezes em flexibilidade. E por uma última vez subi ao prédio, já quase construído, para, no terraço, avistar por fim a terra prometida. E avistei.

E caí.

Parti o corpo todo… escoriações que duram até hoje, fracturas expostas, hemorragias internas, lesões cerebrais… Por um vislumbre de felicidade quase morri. E se não morri foi porque não tive a coragem de largar o suspiro final. Covardemente resisti respirando, até ter força para me arrastar por entre lixo, lama, entulho, vasos partidos, tijolos disformes rejeitados.
Custou. A fisioterapia foi difícil e precisei de várias mãos hábeis, umas mais experientes que outras, mas consegui ficar curado, ou quase, à custa de vários dias de ócio mórbido, de isolamento de tudo e de quase todos. Jurei e lutei furiosamente para me manter afastado deste prédio. Vivi no campo, nas montanhas, tornei-me eremita, velejei ao sabor do vento, esperando que a sua arbitrariedade me mantivesse longe, ou me secasse este desejo de cair.
Hoje caminho orgulhosamente entre os que se dizem meus iguais, pois sei que já vivo a minha segunda vida. Porquê? Não sei. Se existe Deus não fez nada para me ajudar ou prejudicar. Foi tudo da minha inteira responsabilidade. E nem culpo os senhores das obras por nunca me terem avisado do perigo. Estas coisas acontecem.
Ontem passei pelo prédio. Julgava-o já decrépito e desmazelado, consumido pelo tempo e pelas intempéries. Mas, não. Está mais altivo e bonito que nunca. Estou a pensar comprar lá um apartamento. Talvez um que tenha acesso ao terraço.

Não sei se vou cair outra vez…

Sunday, February 01, 2004

TV Ska

Muitas vezes sentimo-nos tentados, e fazemo-lo, a catalogar bandas e artistas, rejeitando-os à partida, sem um escuta atenta. Eu não sou melhor nem pior que os outros e também o faço. Mas ás vezes uma escuta atenta a bandas fora dos meios mais intelactualóides, com um pop mais levezinho, revelam um letras com sagacidade, ironia e até critica social violenta, disfarçada entre melodias pop/rock. Hoje falo dos Despe e Siga, considerados por muitos a versão populista e comercial dos ressuscitados(?) Peste e Sida. Já há muito tempo que ouço esta raridade, e hoje perdi algum tempo a teclar a letra da música. E se a letra diz tudo é preciso escutar a música para sentir a acidez que sai a cada nota cantada pelos Despe.

Tv ska – Despe e Siga in “Ao vivo na Antena 3” (1998)

Crianças a brincar,
As estrelinhas no céu a brilhar.
Estupidamente feliz,
Tirar macaquinhos do nariz.

À noite vou ver televisão
Encher os olhos de cor.
Música no coração….
O mundo é tão lindo
(o mundo é tão belo)

O Titi e a Tátá,
Será que sempre se vão casar?
A bola que é redonda,
O planeta a fazer a onda.

À noite vou ver televisão
Encher os olhos de cor
Música no coração….
O mundo é tão lindo
(belíssimo, muy bonito)

Ambrósio mais um bombom,
As coelhinhas a cantar no tom.
Mulheres lindas a falar,
Semi-nuas e sempre a dançar.

À noite vou ver televisão
Encher os olhos de cor
Música no coração….
O mundo é tão lindo
(belíssimo, o mundo é tão lindo)
A curiosidade matou o gato, e eu estive a mexer com os settings do blog... e perdi os meus arquivos. Felizmente (para mim) tenho tudo guardado. Is to quer dizer que vou meter no blog todas as entradas perdidas (e aproveito o facto de ter mais 1 ou 2 leitores) revistas (só vou cirrigir erros ortográficos e não todso porque senão perdia a piada), e por alguma ordem lógica (ou incoerente, eu nunca sei o que as vozes dentro da minha cabeça querem).
Aos 2 bloggers que visitam a mouraria desde o princípio (d-holbster e gambuzyno) peço desculpas por eventualmente lerem coisas repetidas (mas vocês gostam). E apesar de não ter poder argumentativo de um, e o humor sempre certeiro de outro, espero que os novos visitantes gostem deste meu presente envenenado!

E porque Natal é quando o Mouro quer, para começar temos 2 post acerca do Natal (eu gosto tanto do Natal, quase tanto como dos humanos). E como diria o já lendário Homem Tigre: "Fuck christmas, i got the blues"
Friday, December 26, 2003
O Visonário (originalmente em 26/12/2003)

O Sr. Bispo do Porto na sua mensagem de natal disse que o espírito de natal estava a acabar, e que um sentimento consumista se apoderava cada vez mais das pessoas no Natal. Não?!? Jura? Este homem é um visionário, um profeta. O bispo para presidente!

Este homem não deve sair de casa no natal há pelo menos uns 5 anos. Quando ele descobrir que é o pai natal que dá as prendas em vez do menino Jesus, ainda perde a cabeça e pede a demissão do governo, ou até, pega na Kalashnikov dos seus tempos de furiosa resistência ao Salazarismo e parte com esta merd… isto tudo.

Um apelo à TV cabo: ofereçam ao Sr. Bispo uma assinatura da Sportv, pois é o único local onde um jogo com qualidade das distritais é um grande embate da Superliga! Enfim onde realidade é um sonho. O mesmo também se passa na Sexy Hot e no Viver Vivir, mas para isso sugiro uns vídeos caseiros que podem vir via CTT num embrulho discreto.

Quero aproveitar esta oportunidade para dar os meus parabéns ao Sr. Bispo pela sua mente iluminada, e espero que Deus tenha partido o molde de onde saiu a sua cabeça. Espero também que a bênção que o Sr. vai fazer a um Centro Comercial, num futuro próximo (dado verídico) corra bem.
espírito de natal(2003)

Olá,

eu hoje senti um pouco do espírito de Natal... fui ás compras e vi com os olhos (também senti na pele) o civismo que ataca os portugueses nesta altura... a paciência nas filas dos embrulhos, carros a parar na passadeira, alguns até deixavam passar os peões, os outros limitavam-se a esperar pacientemente, e sem buzinar, que a fila andasse mais uns metros. Lojas cheias de gente que festejava alegremente o Nascimento do Salvador.
E música alegre, verdadeiros hinos de amor, harmonia, e sentimento cristão (ex: Last Christmas by George Michael/Wham). Quase vi no rosto de alguns a Madre Teresa de Calcuta, na fase final de sua vida.

Como estou tão inspirado por este espírito, tenho de ser verdadeiro e afirmar que o Pai Natal não existe... quem mo disse foi o coelhinho da Páscoa, ladeado pela fada dos dentes e pelo perú do dia de acção de graças, no 4 de julho deste ano.

Beijinhos e abraços a todos (as) e não se esqueçam de se divertir nas férias, com quem entenderem, porque nunca se sabe como vai correr o próximo ano... E SERÀ CERTAMENTE MELHOR!!!!!!! :-)
Adiós
Mensagem de Natal (2002)

Pois é... chegou o Natal. Aquela altura do ano em celebramos o nascimento do... pois...do...ahh!!! do PAI NATAL, aquele da coca-cola, não é?!?!? O quê?!?! Vocês estão-me a dizer que afinal quem nasceu foi Jesus? O primeiro socialista utópico (comuna) da história... sim, porque ele nunca me enganou com aquela estória dos ricos repartirem os bens com os pobres. Então é por isso que nesta época a malta vai cheia de vontade aos supermercados e shoppings (centros comerciais) do Belmiro de Azevedo.

Então, mas esse jesus não foi, pelo menos para uns quantos, o fundador de uma religião? Mas, não percebo, então os ateus e agnósticos não festejam o natal?! Ahhh... está bem, como uma boa parte deles é de esquerda, então festejam o nascimento de jesus, o político... apesar de tentarem ignorar a sua mensagem política.

Agora que me lembro, as pessoas não costumam ter férias no Natal, uma festa religiosa relembro, para celebrar o Nascimento de Jesus Cristo, o profeta e filho de Deus (?), num qualquer serviço religioso perto de si?! E quantos celebram?? Proponho que se a malta não vai à missa do galo então, e para ajudar o governo nesta época de produtividade baixa, os não-praticantes (?) não deviam ter férias!!!!

Esta mensagem está um caos, mas serve apenas para vos lembrar que nesta época de paz e amor, cheia de neve e renas, num quadro tão tipicamente latino, vem ao de cima a hipocrisia que vivia recalcada em todos nós durante um ano inteirinho. E lá porque eu acho tudo isto do natal, não deixo de querer que vocês todos, de quem eu gosto muito (sem ironias) passem umas férias óptimas da companhia de quem mais quiserem e fiquem cheios de energias para mais um ano de trabalho....